‘NÃO TEMOS SUFICIENTE CONHECIMENTO HISTÓRICO PARA COMPREENDER A UCRÂNIA’, DIZ PROFESSOR

Victor França viajou de São José para a Ucrânia para conhecer o país invadido pela Rússia em fevereiro de 2022; ele já planeja nova viagem e agora quer ir ao Oriente Médio

O professor Victor França, de São José dos Campos, concluiu das duas semanas que passou na Ucrânia que não se tem o suficiente conhecimento histórico da Ucrânia, no sentido étnico, das etnias que há no país, a simbiose histórica desde antes da União Soviética.

“A Ucrânia tem 32 anos, a minha idade. Acabou a União Soviética e poucos dias depois eles proclamaram a independência”, disse o professor.

Apesar de ter passado pela situação de quase prisão na fronteira com a Rússia, ele disse que não guarda rancor do país. “É uma questão muito maior, de macropolítica e geopolítica. Eu sou uma gota que passou naquela situação. Apesar disso tudo, a conclusão que eu falo é: tenho solidariedade pelo povo ucraniano, mas ambos os países estão perdendo características democráticas com esse conflito”.

Para França, além das óbvias perdas de vidas por consequência da guerra, a democracia também é uma vítima do conflito. O professor pode perceber o avanço da doença tirânica também em outros países.

“Uma coisa que não chega para nós: desde o antigo presidente, mas que foi intensificado com o atual presidente, é que existe um quase banimento da língua russa na Ucrânia. Porque existe uma forte onda, sobretudo ali no leste europeu, de movimentos nacionalistas de extrema direita muito fortes. Então, esse banimento da língua vai nesse sentido, mas você tem ali decretos para uma censura de música, de livros, um cancelamento de nomes de ruas e edifícios substituindo por nomes ucranianos.”

França pode perceber a onda de ‘desovietização’ da Europa, sobretudo no leste europeu, que era o lugar que pertenceu à União Soviética.

“Uma das maiores estátuas da Europa fica lá em Kiev. É uma estátua de alumínio gigante, uma mulher que tem numa mão uma espada e na outra um escudo, chama-se monumento Mãe da Pátria. No escudo tinha um símbolo da União Soviética, a foice e o martelo. Quando fui tentar ver a estátua, não consegui porque obras estavam em andamento ali, para remover a foice e o martelo do escudo.”

“Estou solidário com o povo ucraniano que está tendo baixas, mas essa exaltação de uma figura carismática [presidente Volodymyr Zelensk] que está tomando uma série de medidas que estão indo para o caminho autocrata é muito complicada. Olhando a conjuntura da Europa e do leste europeu, a gente vê que isso não é saudável.”

“A democracia na Ucrânia, desde antes da guerra, com toda aquelas manifestações, eles já diziam que era uma pseudo democracia, uma democracia muito teatral e tinha problema seríssimos no ranking mundial com corrupção”, completou.

O professor de São José já está dando palestras sobre a Ucrânia e organizando o material audiovisual que produziu e coletou no país para compartilhar.

Para ele, a guerra não deve terminar tão cedo, justamente pelo complicado panorama geopolítico no leste europeu. “O Zelensky tem uma moral internacional que o Putin não tem, mas eu não sei até que ponto essa moral vai ser sustentável, inclusive financeiramente”, avaliou.

“O primeiro-ministro da Polônia já deu um aviso e disse para o presidente da Ucrânia nunca mais insultar os poloneses. O país já vai tirar um pouco o pé diplomático da Ucrânia e vai diminuir o envio de armamentos.”

De volta a São José, França disse que já pensa na próxima região de conflito que pretende visitar: Oriente Médio.

“Já tiveram eventos polêmicos e de repercussão mundial. Quero visitar o Iraque ou até mesmo o Afeganistão. Mas são lugares que o planejamento financeiro vai demorar um pouco. Mas em nome do conhecimento, eu tenho uma lista bem grande.”

Fonte: O Vale

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