HOMEM É PEGO PELA POLÍCIA EM MS USANDO DOCUMENTO ORIGINAL DE ESCOTEIRO DESAPARECIDO HÁ 38 ANOS
Tiago Cornélio da Silva relatou para a polícia que queria trocar de nome e tentou emitir RG com certidão de Marco Aurélio após assistir reportagem no Fantástico. Nesta segunda-feira, foram retomadas as buscas pelo menino.
Tiago Cornélio da Silva, de 38 anos, responderá por falsidade ideológica após utilizar a certidão de nascimento de Marco Aurélio Bezerra Bosaja Simon, que está desaparecido desde 1985. De acordo com o delegado de Selvíria (MS), Felipe Rocha, o homem tentou emitir um RG no nome do menino, durante um mutirão na cidade.
A certidão apresentada por Tiago era verdadeira e por isso, só descobriram que ele estava se passando por outra pessoa quando enviaram os dados para a capital do estado e constatou-se que as digitais de quem se dizia ser Marco Aurélio, já possuía um RG, mas no nome de Tiago Cornélio.
“Para tirar o RG, é só levar a primeira via da certidão nascimento, e ele levou essa. Mas não tem como a gente saber ali na hora, se é dele ou não. A certidão tinha selo digital, de Santa Fé, e conferiu-se como verdadeiro”, explicou o delegado.
No dia 13 de setembro, Tiago tentou buscar o documento na delegacia de Selvíria, momento que foi interrogado e confessou a mentira. De acordo com o delegado, o homem disse que assistiu uma reportagem sobre o desaparecimento de Marco Aurélio no Fantástico, da rede Globo, e viajou até a cidade dele, Santa Fé do Sul (SP).
Lá, ele solicitou a certidão de nascimento de Marco Aurélio em um cartório da cidade e depois tentou emitir o RG em Mato Grosso do Sul. “Qualquer pessoa pode retirar uma certidão de nascimento de outra pessoa. Quando não é parente, só tem que assinar um requerimento”, esclareceu Felipe.
Para a polícia, o homem afirmou queria apenas trocar de nome. “Diz ele que não gostava mais de usar o nome dele, que o pai dele sempre batia, judiava dele. Falava que não era pai dele. Aí queria mudar de nome”, relatou.
Conforme o delegado, Tiago não possui antecedentes criminais. Desta vez, apesar de confessar o crime, ele não foi preso porque já havia passado o tempo do flagrante.
O caso
O escoteiro Marco Aurélio Simon desapareceu na manhã do dia 8 de junho de 1985. Ele e outros três amigos, todos com 15 anos à época, estavam acompanhados de um líder e tentavam alcançar o cume do Pico dos Marins, a 2.420 metros — é o segundo ponto mais alto do estado de SP.
No caminho, um deles torceu o pé e o líder autorizou que Marco Aurélio voltasse sozinho ao acampamento para pedir ajuda. O grupo se perdeu e, quando chegou ao local, encontrou a mochila de Marco Aurélio, mas o adolescente não estava lá.
Foram 28 dias de buscas com policiais de diferentes corporações, além de mateiros, alpinistas, especialistas e aeronaves. Até hoje, nenhuma pista do escoteiro foi encontrada.
Em 2021, a investigação do caso foi reaberta pela Polícia Civil. Encerrado em 1990 sem conclusão, o inquérito foi retomado após autorização da Justiça, com novos indícios sobre o que pode ter acontecido — inclusive a possibilidade de que Marco Aurélio esteja vivo.
De acordo com a polícia, são trabalhadas duas vertentes. A primeira de que o escoteiro estaria enterrado em uma área próxima ao Pico dos Marins e a outra de que teriam visto um morador de rua em Taubaté (SP), com os mesmos traços dele.
Novas pistas
A Polícia Civil retomou na manhã desta segunda-feira (18) as buscas por Marco Aurélio. O início da nova etapa da operação aconteceu após drones identificarem pontos onde ossos podem estar enterrados na região. O drone tem tecnologia capaz de fazer detecção de materiais mesmo em uma grande profundidade.
Cinco pontos foram demarcados e serão escavados ao longo dos próximos dias – a previsão é que a operação seja encerrada até a próxima sexta-feira (22).
Um dos pontos fica perto da porteira de entrada do Pico dos Marins, enquanto os outros quatro são localizados na área de mata da região.
“Tortura mental”
Quando o caso foi reaberto, o pai de Marco Aurélio, jornalista Ivo Simon, comentou que sempre insistiu na busca por respostas sobre o filho, mas que desde a reabertura tem revivido a dor do dia do desaparecimento.
“É uma tortura mental. Eu estou vivendo essa tragédia como se fosse de novo o primeiro dia. O que aconteceu? Imagina se ali nessas buscas estiverem ossos do meu filho, vamos ter que passar pela angústia da espera pelo DNA. E quem matou? Não vamos ter como saber. É uma tortura mental que se arrasta há 36 anos”, lamentou.
Desde o desaparecimento, em 1985, Ivo contratou investigadores, fez contatos na polícia, reconhecimento de pessoas que tentaram passar pelo menino e viagens pelo Brasil para apurar informações de diferentes estados onde Marco Aurélio teria sido visto.
“Nós sofremos demais com todo esse processo e destruiu a nossa família. Todos os sonhos que nós tínhamos. Vivemos em função dessa busca”, diz. A esposa de Ivo morreu há seis anos depois de uma série de problemas de saúde, agravados pela situação.
Ivo usa para a busca uma imagem de Marco Aurélio envelhecida, feita com base no irmão, que é gêmeo univitelino. Na foto, foram incluídos traços de andarilho, que é a hipótese usada pela polícia na investigação que aponta a possibilidade de que esteja vivo.
Fonte: G