MULHER QUE FOI PRESA INJUSTAMENTE APÓS TER DADOS ROUBADOS NO INTERIOR DE SP É ABSOLVIDA PELA JUSTIÇA
Gaiva Rodrigues foi vítima de um golpe ao comprar um carro e depois confundida com uma criminosa em um caso de sequestro. Ela chegou a ficar três dias dentro de uma cela.
A assistente administrativa Gaiva Rodrigues foi absolvida pela Justiça durante uma audiência, realizada nesta quinta-feira (17), quase um ano e meio depois de ser presa injustamente por um crime que não cometeu, em Taubaté, no interior de São Paulo.
O caso começou em setembro de 2021, quando ela comprou um carro que não sabia que era roubado. Na ocasião, a quadrilha responsável pela venda do veículo usou dados pessoais dela para criar contas bancárias, que passaram a ser usadas para o depósito de dinheiro de vítimas de sequestro relâmpago.
Depois de um dos casos de sequestro, Gaiva foi presa enquanto trabalhava e chegou a ficar detida três dias. O caso ganhou repercussão nacional e foi exibido no Fantástico.
Absolvição
A absolvição pela justiça aconteceu em uma audiência realizada por vídeo conferência na tarde desta quinta-feira (17). Responsável pela defesa, Bruna Resek comemorou a decisão em entrevista ao g1 e disse que o próximo passo é entrar com uma ação civil contra o estado.
“Vamos entrar com uma ação para que a vítima seja indenizada pelo abalo que foi gerado. Ela chegou a perder duas oportunidades de emprego por isso. É um reparo”, explica.
Gaiva Rodrigues, por sua vez, disse que finalmente se sentiu realmente aliviada desde que foi presa injustamente e que tirou um peso das costas.
“Felicidade é pouco para definir. Quando ouvi a decisão do juiz não me aguentei. Passou um filme pela minha cabeça. Foi a melhor notícia que eu poderia ter recebido”, disse.
Agora livre para sair do país, ela conta que finalmente poderá realizar o sonho de morar em Portugal, algo que já estava nos planos quando tudo aconteceu.
“Meu marido já está lá e eu não consegui ir ainda, mas vou até o final do ano. Agora está tudo certo”, comemora.
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O caso
Gaiva Rodrigues passou três dias presa injustamente depois de ter seus dados roubados e usados em um crime. A mulher havia alertado a polícia sobre o uso indevido de seus documentos e chegou a fazer boletim de ocorrência, mesmo assim teve mandado de prisão expedido contra ela depois que uma vítima a reconheceu como criminosa.
A saga começou em setembro de 2021, quando ela caiu em um golpe na compra de um carro. O veículo vendido para ela era, na verdade, alugado de uma locadora. E ela perdeu R$ 16 mil e teve seus dados compartilhados com os criminosos quando enviou cópias para que a documentação de venda fosse feita.
Meses depois, em fevereiro deste ano, ela descobriu pelo menos duas contas em bancos diferentes abertas em nome dela. Em uma dela, a que teve acesso, entravam valores de R$ 1 mil a R$ 2 mil que era rapidamente enviados a uma segunda conta, o que levantou a suspeita de golpes aplicados em seu nome.
“Eu separei todos os documentos, fui até a delegacia, fiz o boletim de ocorrência e alertei que meus dados tinham sido compartilhados com o golpe do carro e perguntei se eu poderia ser presa por isso e a polícia me afirmou que não, já que eu havia feito um boletim de ocorrência”, conta.
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Menos de um mês depois ela estava em seu trabalho atendendo um cliente quando dois policiais anunciaram que ela tinha um mandado por roubo a mão armada em Pindamonhangaba, cometido em setembro de 2021, e que a justiça havia decretado sua prisão. Na delegacia, ela conta que disse que era inocente e que tinha tido os dados roubados, que havia um registro de ocorrência.
“Eu tentei explicar, mas eles só diziam que quando chegava na cadeia, todo mundo era inocente, e ignoraram o que eu tinha falado. Repetiam para cada policial que tinha que fazer algo comigo que eu era tida como ‘agressiva e perigosa’ e foi esse tratamento que me deram. Passei horas algemada”, lembra.
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Como ela foi presa
O mandado de prisão foi resultado de uma investigação de roubo de ‘quadrilha do PIX’. Uma vítima foi abordada por criminosos armados, entre eles uma mulher negra, com cabelo crespo trançado, e teve de transferir cerca de R$ 1,2 mil a conta da suposta criminosa, mas que na verdade estava em nome de Gaiva.
Na delegacia, quando a vítima registrou o caso e mostrou os comprovantes, a polícia fez uma busca na internet com o nome e encontrou uma foto de Gaiva. Negra e com cabelos trançados. A foto foi mostrada a vítima que a reconheceu como sendo a criminosa. A partir disso, o delegado pediu a prisão dela, que foi decretada em março.
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Investigação
A única prova que a polícia tinha era o reconhecimento facial. Pela regra, o reconhecimento deveria ser feito com a exposição de várias imagens, até que a vítima aponte quem ela acredita ser a pessoa que cometeu o crime. No caso, foi mostrada apenas uma imagem, o que pode ter induzido a vítima.
A foto usada, era uma imagem antiga que ainda mantinha em uma rede social profissional, da época que ainda usava tranças. Após a prisão, a defesa pediu um reconhecimento presencial e quando a vítima a viu, não a reconheceu como sendo a criminosa.
Ali, ela já havia passado três dias presa com criminosos de verdade e vendo alguns saírem antes mesmo dela, que era inocente.
“Eu fui mantida em uma cela pequena, úmida, com mau cheiro, sem qualquer acesso a higiene e longe dos meus filhos e família por três dias por uma confusão que eu me mobilizei para não acontecer. A polícia, que tinha que me proteger, me puniu. E por ser preta, como a vítima disse ser a criminosa, eu fui mantida ali”, conta.
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Mesmo após provar sua inocência, ela precisava andar (até ser absolvida nesta quinta-feira (17)) com o alvará de soltura na bolsa todos os dias. Isso porque o processo ainda tramitava e ela consta como procurada pela polícia.
O que dizem as partes envolvidas?
Acionada pelo g1, a Secretaria de Segurança Pública confirmou que Gaiva Rodrigues foi presa depois de a vítima do sequestro comparecer à delegacia e reconhecê-la como autora do crime por uma foto. A vítima, no entanto, não a reconheceu mais como autora quando a viu pessoalmente e, com isso, a prisão foi relaxada.
O Tribunal de Justiça, por sua vez, informou apenas que “trata-se de um inquérito policial e, nesta fase, os autos tramitam sob sigilo, portanto as informações ficam restritas.”
Fonte: G1