QUATRO ANOS APÓS SER ESFAQUEADA MAIS DE 70 VEZES PELO EX, VENDEDORA AINDA CARREGA MARCAS DA VIOLÊNCIA E BUSCA RECOMEÇO: ‘ME SINTO FORTE’

Caso aconteceu em julho de 2019, em Taubaté. Lei Maria da Penha completa 17 anos nesta segunda-feira (7).

Esfaqueada mais de 70 vezes pelo ex-namorado, Aline Guimarães, de 42 anos, é uma sobrevivente. Vítima da violência contra a mulher, ela foi alvo de uma tentativa de feminicídio dentro da própria casa. Quatro anos após o crime, a vendedora ainda carrega marcas da violência e busca um recomeço.
Na segunda-feira (7), data em que a Lei Maria da Penha completa 17 anos e em meio a campanha Agosto Lilás, de conscientização para o combate da violência contra a mulher, a reportagem conversou com Aline, que tenta usar a própria história para ser voz para outras mulheres que estão presas em relacionamentos abusivos, para que não passem pela mesma dor e violência que ela passou.
Moradora de Taubaté, Aline foi atacada com 78 golpes de faca pelo ex-namorado em julho de 2019. À época, ela passou três dias em coma, em estado grave, e precisou ficar internada por duas semanas. Em seguida, passou por tratamento para recuperar os movimentos do lado esquerdo do corpo, que, até hoje, carrega as marcas e as cicatrizes dessa agressão brutal.
“Eu perdi um pouco de sensibilidade do meu lado esquerdo, mas eu não perdi a parte motora. Foi muito afetada a parte do braço esquerdo. Hoje incomoda um pouco o fato de não ter essa sensibilidade”, contou Aline, em entrevista.

As cicatrizes são apenas algumas das marcas visíveis que ela carrega após mais um ato de violência contra a mulher na região. Com o ex-companheiro condenado e cumprindo pena, ela vive a incerteza de saber como será daqui para frente, quando ele puder sair do presídio.
Cleiton Duda dos Santos havia sido condenado a 23 anos e 4 meses de prisão, mas, em 2021, a Justiça reduziu a pena dele para 13 anos. Devido ao trabalho executado na prisão, ele conseguiu eliminar mais 100 dias da pena.
“Hoje eu vivo uma situação delicada de saber o que eu vou fazer da minha vida. Eu estou há anos no mesmo trabalho e estou me desligando da empresa, pelo fato de seguir minha vida em outro lugar no próximo ano, porque ainda não sei para qual região eu vou, como, o que eu vou fazer”, contou.
Viver um dia após o outro: esse é o lema de Aline, que conta que o relacionamento com Cleiton trazia muita insegurança e que notou os primeiros sinais de violência já nos primeiros meses de relacionamento, com ofensas verbais e, depois, com uma agressão física após discussão no carro.
“Eu achava que eu tinha que perdoar. Eu achava que ele era bom para a família dele, para a sociedade e que eu tinha que dar uma segunda chance. Quando ocorreu essa fatalidade [das facadas], não foi por motivo de traição, foi porque eu realmente já não aguentava mais”.
Segundo Aline, Cleiton costumava terminar o relacionamento e depois decidia que queria retomar o namoro.
“A partir do momento que eu parei de obedecer, foi quando ele invadiu a minha casa e chegou nessa fatalidade”, completou.
Aline acredita que os primeiros sinais de violência são sempre perceptíveis e, segundo ela, se um relacionamento não traz paz, o sinal de alerta deve ser ligado.
“Os primeiros sinais são sempre identificados, porque quando o relacionamento não traz paz, alguma coisa ele tem de errado e infelizmente eu não conseguia ter essa visão, eu achava que ele era assim, maravilhoso, com várias qualidades, e eu ia dando outra chance”, disse.
Apesar de considerar a Justiça falha, Aline relata que se sente uma mulher muito mais forte após passar por tudo o que já passou.
“A Justiça é muito falha, porque ele foi condenado a 23 anos, depois recorreu e conseguiu [reduzir para] 13 anos. Eu me sinto muito forte. As pessoas até falam que eu não estou em depressão, não tomo muito remédio. Eu tentei sempre viver um dia após o outro. Foi tudo muito grave, eu tive vários órgãos vitais afetados, inclusive o coração. Mas, graças a Deus, eu recuperei”, finalizou.

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