FOTÓGRAFO BRASILEIRO TEM PROBLEMA COM CILINDRO DE OXIGÊNIO E QUASE MORRE AO ESCALAR MONTE EVEREST

Essa foi a 3ª vez que Gabriel Tarso escalou a maior montanha do mundo. Ele registrava o projeto de um amigo brasileiro quando teve problemas com oxigênio e precisou lutar pela sobrevivência.

Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal
Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal

Durante a realização de um trabalho no Monte Everest, o fotógrafo e cinegrafista Gabriel Tarso, natural de Cruzeiro (SP), teve um imprevisto que poderia ter sido fatal. Com problemas no cilindro de oxigênio, o profissional ficou sem o artifício por cerca de duas horas, a mais de sete mil metros de altitude.

“Foram as duas horas mais longas da minha vida”, conta.

Gabriel tem 35 anos e há mais de dez trabalha escalando montanhas para registrar o feito de atletas e grupos de escalada. Dessa vez, ele foi contratado por um brasileiro, chamado Bernardo Fonseca, que tinha como objetivo produzir um documentário na montanha.

A missão começou há cerca de 40 dias. Os dois faziam parte de um grupo de cinco pessoas, que iniciou o acampamento no Everest, no Nepal, no começo de abril. A medida antecipada é necessária para acostumar o corpo com as condições do local, que são extremamente desgastantes para o organismo.

“Foi mais de um mês aclimatando. É um procedimento comum e muito importante para os montanhistas. Ficamos em acampamentos na montanha e vamos subindo para, aos poucos, acostumar o corpo”, explica.

O Monte Everest, o pico mais alto do mundo, e outros picos da cordilheira do Himalaia são vistos através de uma janela de uma aeronave durante um voo de montanha em Katmandu, no Nepal, em janeiro de 2020 — Foto: Monika Deupala/Reuters/Arquivo
O Monte Everest, o pico mais alto do mundo, e outros picos da cordilheira do Himalaia são vistos através de uma janela de uma aeronave durante um voo de montanha em Katmandu, no Nepal, em janeiro de 2020 — Foto: Monika Deupala/Reuters/Arquivo

A ida ao cume (topo do monte), no entanto, é feita de uma vez só. O grupo partiu na noite de domingo (21) para chegar no lugar mais alto do mundo na manhã de segunda-feira (22).

“A ideia era pegar uma janela de clima (período em que as condições estão mais amenas), mas teve muito vento, alguns a 50 quilômetro por hora, e a temperatura chegava a -30°C”, lembrou.

Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal
Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal

Apesar disso, tudo ocorreu como o esperado e o objetivo foi concluído com sucesso. Os problemas, no entanto, estariam na viagem de volta.

“A descida já é o mais difícil. Muitas pessoas, quando concluem, acham que já venceram, mas tem a volta. E aí acontecem os problemas. Já perdi amigos que morreram voltando. É preciso ainda mais atenção”, disse.

Mesmo com todo o cuidado, Tarso não contava com uma falha no cilindro de oxigênio. O artifício, que conta também com uma máscara para fornecer o ar diretamente ao montanhista, é considerado indispensável para muitos praticantes na maior altitude do mundo.

“O Monte Everest tem 8,84 mil metros. Quando estávamos a mais ou menos 8,7 metros, percebi que meu oxigênio tinha acabado. Era para ele ter durado 12 horas, mas durou apenas duas”, lembra Gabriel.

Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal
Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal

A situação que já era ruim, no entanto, ficou ainda pior, já que o fotógrafo estava distante do grupo naquele momento. Ele tinha acabado de parar para fazer algumas fotos e os outros integrantes da expedição seguiram a viagem.

“Isso acaba sendo normal. Eu demoro mais porque paro sempre para fazer os registros. Às vezes acabo até voltando um pouco. E naquele momento a única pessoa que estava próxima de mim era um sherpa (como são chamados os nativos do leste do Nepal), que não me entendia”, contou.

Gabriel lembra que começou a se sentir cada vez mais fraco, tinha visão turva e ia perdendo o sentido com o passar dos minutos.

“As condições são extremas, é um dos locais mais perigosos do mundo. Quem já subiu o monte sabe que é comum vermos corpos, durante o trajeto, de pessoas que não conseguiram voltar para casa. Então uma falha mecânica como essa poderia perfeitamente ter sido fatal”, diz.

Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal
Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal

A única saída no momento era um rapel que o acompanhava. Ele então montou a estrutura que tinha com cordas e iniciou a descida. Durante o caminho, Tarso encontrou um cilindro que havia sido deixado por outro montanhista e que o ajudou a seguir a volta.

“Era um cilindro com 5% de oxigênio. Provavelmente havia sido deixado ali justamente por já estar quase acabando. Mas me ajudou muito e foi útil para eu continuar, porque naquele momento eu já estava muito tonto, sem forças”, contou.

Gabriel ainda tentou contato por rádio, mas não teve retorno. A sorte foi que o grupo começou a estranhar sua demora e parou. Um dos integrantes, o sherpa Jen Jen, conseguiu voltar um trecho e o viu de longe. No encontro, o montanhista conseguiu ajudá-lo e forneceu parte do oxigênio suplementar que tinha.

“Ele me viu de longe e eu puxei a última energia que tinha para gritar por ajuda. Eu expliquei que estava sem ar e consegui o auxílio dele. Foram as duas horas mais longas da minha vida”, se recorda.

Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal
Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal

Dois dias após o acidente, o fotógrafo se encontra recuperado, mas ainda carrega sinais do problema que enfrentou no cume.

“Já passei pelo médico, mas continuo com tosse, às vezes cuspindo sangue. Estou medicado e em um lugar seguro. Nosso corpo não foi feito para passar por essas condições, mas estou melhor”, afirma.

Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal
Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal

Segunda vez em menos de um ano

Essa foi a segunda vez que Gabriel Tarso correu risco real de vida quando escalava uma montanha no Nepal, conhecido justamente pelas cordilheiras.

No fim de setembro do ano passado, o fotógrafo foi surpreendido por uma avalanche no Manaslu, a oitava montanha mais alta do mundo. Ele saiu ileso, mas perdeu um amigo e outros ficaram feridos na ocasião.

Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal
Fotógrafo brasileiro tem problema com cilindro de oxigênio e quase morre ao escalar Monte Everest. — Foto: Gabriel Tarso/Arquivo pessoal

Após os acidentes, Tarso tem repensado as próximas missões. Em julho, por exemplo, ele tem uma visita programada aos montes do Paquistão, outro país conhecido pelas cordilheiras.

“Eu sou muito feliz fazendo o que eu faço. São lugares que eu amo muito e que fazem parte de mim. Amo estar aqui, é um grande projeto, mas agora preciso de um tempo para conseguir pensar com calma e reavaliar tudo o que vem pela frente”, analisou.

Foto mostra Nanga Parbat, nona maior montanha do mundo, localizada no Paquistão — Foto: Bianca Soprana
Foto mostra Nanga Parbat, nona maior montanha do mundo, localizada no Paquistão — Foto: Bianca Soprana

Fonte: G1

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