TARCÍSIO ESCALA PROFISSIONAIS COM PASSAGEM PELO VALE PARA COMBATER CRACOLÂNDIA
Meta é desarticular um dos locais mais conhecidos da cidade, em razão das cenas de uso de entorpecentes à luz do dia
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), elegeu a cracolândia na capital paulista como um dos seus maiores desafios.
A meta é desarticular um dos locais mais conhecidos da cidade, em razão das cenas de uso de entorpecentes à luz do dia e do intenso tráfico de drogas por lá, com todos os impactos sociais e na saúde pública.
Para tanto, Tarcísio recrutou uma força-tarefa comandada por profissionais que vieram do Vale do Paraíba, a começar pelo vice-governador Felicio Ramuth (PSDB), ex-prefeito de São José.
Ele foi indicado como o homem forte do governo estadual junto ao município de São Paulo no enfrentamento à cracolândia – ou às ‘cenas abertas de uso’, como o governo prefere chamar a localidade.
Trata-se de parceria inédita entre Estado e administração municipal para tentar resolver o problema histórico da cracolândia.
Felicio disse que tem se reunido constantemente com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para debater as ações e traçar medidas concretas de enfrentamento.
“Avançamos bem mais do que eu esperava, admito. O trabalho vem sendo muito bem feito e tenho certeza de que renderá frutos”, afirmou.
Depois de Felicio, a primeira medida do governo foi trazer do Vale o delegado Jair Barbosa Ortiz, escolhido no final de janeiro para comandar as ações da 1ª Delegacia Seccional do Centro de São Paulo, região responsável pela cracolândia.
Ortiz ficou um ano à frente do Deinter-1 (Departamento de Polícia Judiciário do Interior), órgão responsável pelo comando da Polícia Civil no Vale do Paraíba.
Na capital, ele assumiu a missão de mudar a sistemática de atuação da Polícia Civil na cracolândia, com operações mais cirúrgicas e baseadas em inteligência policial do que operações violentas de repressão.
“Faz 30 anos que eu vejo operações policiais muito incisivas na cracolândia e, até hoje, eu não vi resultado. Tendo a acreditar que essa narrativa é mentirosa, de que enfrentar a cracolândia na base de pancada vai resolver”, disse ele ao assumir o cargo.
Atrito
No entanto, é justamente essa nova abordagem que tem causado os primeiros atritos entre governo estadual e a prefeitura por causa da cracolândia.
O prefeito Nunes é adepto de ações mais incisivas e frequentes entre os dependentes químicos na localidade, diferente do que propõe Ortiz, que prefere atacar grandes fornecedores de drogas.
Segundo a Polícia Civil, ao longo de quase dois anos, cerca de 1.000 pessoas foram detidas nas operações mirando os pequenos traficantes e usuários.
No começo de fevereiro, já com Ortiz no comando, duas mulheres foram presas com drogas que abasteceriam a cracolândia, segundo as investigações. O delegado quer mudar a estratégia de combate para minar os grandes traficantes.
“Em todo lugar que eu vou eu paro para conversar com os policiais. Em Frankfurt (Alemanha), sabia que tinha uma cracolândia importante lá, e fui levado ao centro de comando para ver como é feito o trabalho da polícia”, afirmou Ortiz.
Essa visão ‘cosmopolita’ da questão das cracolândias foi um ponto que pesou na decisão do governo estadual de recrutar Ortiz.
“É um profissional que visitou Viena, Frankfurt, Amsterdã, cidades que tinham problemas similares”, afirmou Guilherme Derrite, secretário estadual de Segurança Pública, sobre a escolha pelo delegado.
Câmeras
A segunda baixa nas forças de segurança da RMVale se deu no começo de fevereiro, quando a SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública) trocou o comando da Polícia Militar na região.
Foi anunciado o tenente-coronel Hugo Araújo Santos para assumir o CPI-1 (Comando de Policiamento do Interior) no lugar do tenente-coronel Carlos Henrique Lucena, que foi para o Copom (Centro de Operações da PM), na capital paulista.
Lucena ficou menos de um ano no Vale e terá a missão de comandar o serviço de atendimento e tecnologia da PM em São Paulo, incluindo as câmeras que o governo pretende instalar na região central.
No final de janeiro, Felício disse que serão instaladas 500 câmeras com inteligência artificial, o que inclui o reconhecimento facial, na região da cracolândia. A previsão de entrega é até o fim de junho.
As imagens serão analisadas pela polícia e integrantes da prefeitura e do governo estadual em tempo real.
“A ideia é elaborar uma sala de inteligência em que as equipes acompanhem tudo em tempo real”, afirmou o delegado Ortiz, que também citou o uso de drones na região como parte das novas ações.
“Quatro fatores são fundamentais para [atuar na] cracolândia: limpeza, iluminação de qualidade e utilização do espaço público de acordo com sua utilidade original. [É importante também] criar um monitoramento para ter a oportunidade de fazer um trabalho mais qualificado ao saber o que está acontecendo lá”, completou o delegado.
Segundo Felicio, Lucena também terá papel fundamental na operação com as imagens das câmeras na cracolândia. “Ele tem grande experiência e vai contribuir muito com o trabalho nas cenas abertas de uso”, disse.
A inspiração para o trabalho de tecnologia no centro paulistano é o CSI (Centro de Segurança e Inteligência), da Prefeitura de São José dos Campos, instalado em 2021, quando Felicio era prefeito.
A tecnologia das câmeras inteligentes com reconhecimento facial já contribuiu para a prisão de 150 pessoas procuradas pela Justiça.
Por fim, o tratamento dado a dependentes químicos na Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, é outro serviço que deve servir de referência para tratar os usuários da capital.
Tarcísio visitou a fazenda durante a campanha e conversou com Frei Hans Stapel, um dos fundadores do serviço. Na ocasião, o então candidato elogiou os resultados da Fazenda da Esperança disse que o trabalho serviria de inspiração ao Estado caso fosse eleito.
Fonte: O Vale