Eventual golpe de Bolsonaro não teria apoio de militares da ativa, diz Chagas

Aos 72 anos, 38 deles no Exército, o general da reserva Paulo Chagas, conhece suficientemente bem a vida nos quartéis para afirmar que, 36 anos depois da ditadura, os militares da ativa não apoiarão medidas autoritárias como o cancelamento de eleições. “Tem que olhar para o Exército e os generais do Alto Comando. Se o comandante [do Exército] tomar uma posição contrária ao Alto Comando, ele vai ficar sozinho, vai dar uma ordem que não será cumprida.”, disse Paulo Chagas em entrevista à Agência Pública.

Sobre a possibilidade de Jair Bolsonaro dar um golpe, ele  reproduz o que ouviu de um dos colegas da ativa: “General, o Exército não mudou. Isso aí é conversa de político. Não entra aqui”, revelou. O general diz que o presidente confunde a opinião pública ao inchar seu governo de militares para passar a ideia equivocada de que teria respaldo militar nos conflitos com Judiciário e Congresso. Mas, na opinião Chagas, os militares no governo não têm mais vínculos com os quartéis e, portanto, não teriam capacidade de estimular a tropa a aderir às teses bolsonaristas. 

Chagas faz parte do grupo de generais que trabalha por uma terceira via no ano que vem – a dobradinha Hamilton Mourão-Sérgio Moro é a principal aposta do grupo. O general também revela que, antes de fechar com o Centrão, Bolsonaro tentou, sem sucesso, obter um apoio mais decisivo das Forças Armadas. Ele também não acredita que o ministro Braga Netto tenha condicionado a eleição à aprovação do voto impresso, até porque esse não é um tema da alçada da Defesa. “Não tinha nada que se meter nisso”, diz, garantindo que não haverá alteração no calendário eleitoral, mesmo se o comprovante impresso do voto eletrônico, que ele também defende, não seja adotado. “Nenhuma autoridade do Brasil tem legitimidade para fazer isso. Golpe só se for ‘politicamente correto’(com apoio das instituições republicanas), brinca, garantindo que militares da ativa não se envolveriam “numa bobagem dessas”. 

Oficial de cavalaria e ex-candidato ao governo do Distrito Federal, como apoiador de Bolsonaro, em 2018, Chagas selecionou 65 textos que escreveu, entre 2018 e 2021, e que transformará em livro, retratando o período em que passou de apoiador a crítico radical do presidente, com quem rompeu logo no início do governo. “Fui mudando de opinião na medida em que o cara foi fazendo cagada”, diz, sem meio termo. 

Sobre a aliança de Bolsonaro com os parlamentares do Centrão, que o presidente anteriormente afirmava repudiar, o general diz que “Bolsonaro acreditou que tinha força para intimidar o Congresso”, mas acabou se dando conta que tinha deixado esqueletos no armário, como a rachadinha, e os problemas legais de Flávio Bolsonaro. E critica os parlamentares do Centrão, que, segundo ele, estão apenas se aproveitando de um governo fragilizado por ameaças de impeachment para fazer negócios. “São oportunistas, abutres. Agora o Bolsonaro está calmo porque se rendeu aos bandidos e todo mundo está comprado e pago”, diz.

Fonte: O Vale

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