Família de adolescente morto no carnaval em São Luiz do Paraitinga contesta laudo do IML

À época, testemunhas afirmaram que Gabriel Galhardo morreu após ser atingido por policiais com um cassetete, mas laudo descartou agressão como causa. Família contratou laudo pericial particular, que contesta relatório.

A família do adolescente Gabriel Galhardo, morto após ser atingido com golpes de cassetete por policiais no carnaval de 2019 em São Luiz do Paraitinga, contesta o laudo do Instituto Médico Legal (IML), que descartou a morte por agressão. Um novo laudo pericial, contratado pela família do jovem e incluído no inquérito policial, apontou que a morte não foi em decorrência, exclusiva, do uso de drogas e que pode ter sido consequência de um traumatismo crânio-encefálico.
O adolescente de 16 anos morreu em março de 2019 durante uma confusão generalizada, após um grupo começar uma briga na Praça do Coreto. PMs agiram usando cassetetes e o adolescente foi atingido com golpes na cabeça e no tórax, caiu no chão e desmaiou. Ele chegou a ser socorrido para a Santa Casa, mas não resistiu.
À época, o resultado do exame necroscópico do IML, concluído em abril do ano passado, apontou que que o jovem morreu por insuficiência respiratória, e que apesar das lesões na cabeça, não foram encontradas lesões internas que pudessem atribuir a causa da morte como decorrente de trauma externo. No sangue do adolescente, segundo o laudo do Estado, foram identificadas as presenças de substâncias encontradas em drogas, além de 0,7 g/litro de concentração de álcool no sangue.

Por causa do potencial tóxico das substâncias, elas foram consideradas no documento um fator possível para causa da morte. Apesar disso, o laudo não confirmou que essa seja a causa da morte e apontou causa inconclusiva.
Sem concordar com o resultado, a família do Gabriel contratou o médico perito e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Romero Muñoz para analisar todos os documentos e refazer um novo laudo, que apontou que a morte não foi em decorrência, exclusiva, do uso de entorpecentes e que pode ter sido causado pelo golpe na cabeça do adolescente.
“A decisão de contratar um médico perito renomado é para buscar de forma isenta o que de fato ocorreu. Eu como pai quero saber o que realmente aconteceu, quero que seja apurada a verdade do que causou a morte do meu filho”, explicou o pai da vítima, Thiago Galhardo.
No novo laudo, o médico perito afirma que apesar da vítima ter feito uso de drogas, tais substâncias não causaram rebaixamento do nível de consciência, crises convulsivas ou alterações que pudessem causar a morte, antes de receber o trauma na cabeça, já que antes dele ser atingido, estava consciente, orientado e sem déficit motor, já que ao perceber a confusão, teve a reação de fuga, saltou sobre um arbusto.

Após ser atingido, ele teve crise epiléptica e também teve alterações como palidez, resfriamento cutâneo, baixa perfusão sanguínea periférica e ausência de incursões respiratórias. “Portanto, as manifestações neurológicas e sistêmicas, que o levaram ao óbito, foram imediatas ao trauma, indicando a relação direta entre tais eventos”, diz trecho do laudo.
“O primeiro laudo do IML foi inconclusivo e tendencioso a levar em consideração apenas o exame toxicológico. Não contou com os fatos, nem com depoimentos das testemunhas que todas foram muitas categóricas em descrever como foi. Depois das 18h, eu estava falando com meu filho de hora em hora e ele estava bem, lúcido. Fato confirmado por quem estava lá. Ele foi atingido por um policial muito forte e o golpe foi muito brutal, que teve relação direta com a morte. O IML não considerou todos esses elementos”, afirma o pai do jovem, que é de Taubaté.
O advogado da família Luís Gustavo Veneziani explica que o laudo já foi anexado ao inquérito e que a família aguarda a conclusão. “O que a gente quer é que todas circunstâncias sejam devidamente apuradas e está muito claro que ou o Gabriel foi agredido num momento em que precisava de auxílio ou foi vitima de uma ação policial brutal”, conclui.

O QUE DIZ A SSP
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) foi procurada pela reportagem e informou que o caso segue em investigação pela delegacia de São Luiz do Paraitinga. “Diversos laudos estão anexados ao inquérito policial e em análise pela autoridade responsável. As testemunhas mencionadas serão ouvidas. O IPM instaurado pela Polícia Militar foi relatado em maio de 2019”, informou a pasta.

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