Paciente morto por Covid-19 tem corpo trocado em enterro em Caraguatatuba

Com o caixão lacrado, família enterrou outra pessoa sem saber. Segundo relato de filha, três corpos foram envolvidos na troca.

Uma família descobriu que teve o corpo do parente que morreu trocado e enterrou outra pessoa em Caraguatatuba, no litoral norte paulista. João Marcos de Oliveira, 74 anos, morreu por Covid-19 e foi enterrado de caixão lacrado.

Horas após o sepultamento, a família foi avisada que havia sepultado uma outra pessoa. A confusão foi desfeita depois que a filha de João, Graziela Oliveira, fez o reconhecimento do corpo do pai, que ainda estava no hospital. Ao todo, três famílias tiveram os parentes trocados, de acordo com o relato dela.

João Marcos estava há dez dias internado no hospital Stella Maris de Caraguatatuba com coronavírus. Ele não resistiu e morreu na segunda-feira (18) e o enterro foi marcado para a manhã de terça-feira (19). Com os procedimentos de segurança, o caixão seguiu lacrado e sem velório. A filha conta que acompanhou o sepultamento à distância com o irmão.

Horas após o enterro, ela recebeu uma ligação do hospital pedindo que fosse até a unidade e quando chegou recebeu a notícia de que os corpos tinham sido trocados. A troca foi percebida porque depois do sepultamento do pai, uma outra família faria o velório de uma pessoa que não havia morrido com o vírus. O caixão, no entanto, estava fechado e ao abrirem perceberam que o morto não era o familiar.

No cemitério, a funerária desenterrou o que seria o caixão do pai de Graziela, acreditando que a troca havia sido entre eles, mas ao abrir, perceberam que se tratava ainda de uma terceira pessoa.

“Quando eu cheguei no hospital eu fui obrigada a colocar aqueles paramentos e entrar na UTI de Covid-19 para reconhecer o corpo do meu pai. Eles abriram um saco plástico e pediram que eu olhasse. Não conseguia reconhecer, eu estava em choque. Fui obrigada a olhar para ele e então percebi que aquela pessoa, naquele saco, era meu pai”, conta.

Após o reconhecimento, o corpo de João foi liberado mais uma vez para o sepultamento e os outros dois corpos destrocados. À família a Santa Casa informou que abriu uma sindicância para apurar o caso.

“Ele não é um número, ele era o meu pai. Importa para mim. Eu não quero que ninguém mais passe por isso”, conta Graziela.

Depois de fazer o reconhecimento, ela ainda foi orientada a fazer o isolamento domiciliar por ter entrado na UTI reservada aos pacientes com o vírus.

“Meu pai morreu sem contato comigo. Enterrar alguém sem se despedir é doloroso. Agora, eu ainda tenho que me isolar e ficar sem o apoio de ninguém em um momento como esse”.

O enterro do corpo do idoso foi feito às 14h da quarta-feira (20) e a família registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil.

O QUE DIZEM HOSPITAL, FUNERÁRIA E PREFEITURA
O hospital Stella Maris informou em nota que tomou todas as medidas necessárias para regularizar a situação e informou ainda que instaurou uma sindicância interna para apurar o fato.

A funerária Campo Vale informou que abriu “um procedimento interno para apurar o que aconteceu”.

A Prefeitura de Caraguatatuba informou que a acionou a unidade saúde para que fosse aberta uma sindicância para apurar o caso.

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