Após decreto de Bolsonaro, CNBB critica flexibilização da posse e porte de armas

Cerca de 300 bispos de todo país estão reunidos na basílica, em Aparecida (SP), para discutir os rumos da Igreja Católica no país. Mensagem desta quarta-feira (8) foi a primeira divulgada pelo colegiado na Assembleia Geral dos Bispos neste ano.

No dia em que foi publicado o decreto do presidente Jair Bolsonaro que facilita o porte de arma para um conjunto de profissões, mais de 300 bispos reunidos na Assembleia Geral dos Bispos em Aparecida (SP) emitiram uma mensagem em que manifestam contrariedade a projetos que flexibilizem a posse e o porte de armas.

O documento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é o primeiro em nome do colegiado divulgado na assembleia deste ano – a reunião dos bispos começou no último dia 1º e termina na próxima sexta-feira (10). O encontro discute as diretrizes da Igreja Católica no Brasil.

O título da carta é ‘Mensagem ao Povo Brasileiro’. No texto, os bispos apontam que a violência no país atinge ‘níveis insuportáveis’, com referência às mortes de jovens assassinados e a violência contra as mulheres. O documento lembra que o período é de criminalização os defensores dos direitos humanos.

Na carta, os bispos defendem que é preciso uma via eficaz como resposta à violência e falta de segurança. “Inspirado no mandamento ‘Não matarás’ e não em projetos que flexibilizem a posse e o porte de armas. Precisamos ser uma nação de irmãos e irmãs, eliminando qualquer tipo de discriminação, preconceito e ódio. Somos responsáveis uns pelos outros”, defendeu a CNBB.

O texto faz ainda críticas às políticas que favorecem o aumento das desigualdades sociais e aumento da concentração de renda à custa dos mais pobres. “A opção por um liberalismo exacerbado e perverso, desidrata o Estado quase ao ponto de eliminá-lo, ignorando as políticas sociais de vital importância para a maioria da população”, diz em outro trecho.

Os bispos ainda tratam do desemprego, que atinge o patamar de 13 milhões de brasileiros e critica o que considera como medidas de combate, até agora, ineficazes. Sobre a reforma da previdência, sinaliza que é ‘necessário preservar os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras’.

A Igreja diz considerar necessárias as reformas política, tributária e da previdência, mas pondera que elas só serão legítimas se garantirem o bem comum e forem feitas por meio de participação popular.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, assina o Decreto que dispõe sobre a aquisição, o cadastro, o registro, a posse, o porte e a comercialização de armas — Foto: Marcos Corrêa/PRO presidente da República, Jair Bolsonaro, assina o Decreto que dispõe sobre a aquisição, o cadastro, o registro, a posse, o porte e a comercialização de armas — Foto: Marcos Corrêa/PR

Entenda o decreto

O decreto do presidente Jair Bolsonaro facilita o porte de arma para um conjunto de profissões, como advogados, caminhoneiros e políticos eleitos – desde o presidente da República até os vereadores. O direito ao porte é a autorização para transportar a arma fora de casa.

O texto foi assinado pelo presidente em cerimônia no Palácio do Planalto na terça (7), quando ele citou apenas algumas das categorias que teriam o porte facilitado: caçadores, colecionadores e atiradores – conhecidos como CACs.

O Estatuto do Desarmamento prevê que, para obter o direito de porte, é preciso ter 25 anos, comprovar capacidade técnica e psicológica para o uso de arma de fogo, não ter antecedentes criminais nem estar respondendo a inquérito ou a processo criminal e ter residência certa e ocupação lícita.

Além disso, é preciso comprovar “efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física”.

O decreto de Bolsonaro altera esse último requisito e afirma que a comprovação de efetiva necessidade será entendida como cumprida para as seguintes pessoas:

  • Instrutor de tiro ou armeiro credenciado pela Polícia Federal
  • Colecionador ou caçador com Certificado de Registro de Arma de Fogo expedido pelo Comando do Exército
  • Agente público, “inclusive inativo”, da área de segurança pública, da Agência Brasileira de Inteligência, da administração penitenciária, do sistema socioeducativo, desde que lotado nas unidades de internação, que exerça atividade com poder de polícia administrativa ou de correição em caráter permanente, ou que pertença aos órgãos policiais das assembleias legislativas dos Estados e da Câmara Legislativa do Distrito Federal
  • Detentor de mandato eletivo nos Poderes Executivo e Legislativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, quando no exercício do mandato
  • Advogado
  • Oficial de justiça
  • Dono de estabelecimento que comercialize armas de fogo ou de escolas de tiro ou dirigente de clubes de tiro
  • Residente em área rural
  • Profissional da imprensa que atue na cobertura policial
  • Conselheiro tutelar
  • Agente de trânsito
  • Motoristas de empresas e transportadores autônomos de cargas
  • Funcionários de empresas de segurança privada e de transporte de valores

Fonte: G1

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