SERGIO HONDJAKOFF, O ‘CABEÇÃO’ DE MALHAÇÃO, SUPERA VÍCIO EM DROGAS E QUER RETOMAR CARREIRA: ‘CANSEI DE SOFRER’
Ator teve alta de clínica de recuperação há três meses. No local, ele ficou um ano e disse estar totalmente sóbrio.
Eternizado como o personagem ‘Cabeção’, de Malhação – série da TV Globo entre 1995 e 2020 –, Sérgio Hondjakoff tomou os noticiários da imprensa nos últimos anos por outra questão: a luta contra as drogas. O ator e cantor, de 38 anos, saiu de uma internação há cerca de três meses e afirmou: está recuperado e quer retomar a carreira artística.
Em entrevista exclusiva ao g1, Hondjakoff falou sobre o início do vício nas drogas, as internações, a exposição das recaídas nacionalmente, além da sua vida pessoal atual e os projetos para a carreira.
Há exatos dois anos, um dos episódios envolvendo o ator durante uma das internações, chamou a atenção do país – foi em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, que a dependência química do artista veio à tona.
Foi no dia 4 de agosto de 2021 que o Ministério Público de São Paulo interditou uma clínica de reabilitação para dependentes químicos em Pindamonhangaba (SP). Na ação do MP, 46 pessoas foram encontradas em cárcere privado, segundo a Polícia. Um desses pacientes era Sérgio Hondjakoff, o ‘Cabeção’.
Cárcere privado em clínica
À época, ao ser identificado, o ator negou que estivesse em uma clínica de reabilitação e chegou a gravar um vídeo na casa de sua mãe, em Resende (RJ), alegando que estava bem. Mais tarde, porém, foi comprovada a presença do artista no local – foi aí que a dependência química de Hondjakoff se tornou oficialmente pública.
“De 2021 para cá, eu passei a falar publicamente da minha condição de dependente químico, depois de uma internação que eu tive em Pindamonhangaba. Eu fiquei três meses [internado], mas era para eu ter ficado um ano. A clínica acabou fechando porque tinha muitas denúncias de algumas pessoas que abusavam, faziam maus-tratos. Tinha muita gente que tinha denunciado essa clínica e ela realmente tinha fama de fazer isso”, contou o ator.
“Eu fui para a delegacia, liguei para a minha mãe e ela ficou muito assustada. Eu fiz um boletim de ocorrência, coloquei meu CPF, tirei foto com alguém na delegacia, a foto viralizou. Num primeiro momento eu neguei, falei que estava na casa da minha mãe, falei que era boato, mas não tinha como negar, pois a imprensa já havia visto meu CPF, minha assinatura no boletim de ocorrência, e aí foi quando eu tornei pública a minha condição de dependente químico”, continuou.
Vício e recaídas nos últimos anos
Segundo o ator, as internações começaram ainda quando estava vivendo os reflexos do auge de ter sido o ‘Cabeção’ de Malhação, em 2007. Quem tomou a iniciativa da internação foi a própria mãe.
“Eu era muito novo, estava fazendo muita besteira, estava dando trabalho, ficando nervoso, mas eu aprendi um pouco do conteúdo, não quis me aceitar como dependente químico, ouvia só as vantagens do uso e queria continuar usando, e aí eu fiquei um período de 10 anos sem ser internado”, relatou.
Ele só voltou a ser internado em 2016 quando, segundo ele, estava ‘dando muito trabalho ao pai’ – a quem chegou a ameaçar de morte em uma transmissão ao vivo nas redes sociais.
“Naquele ano, as minhas recaídas estavam sendo muito desgastantes para o meu pai, porque eu recaía e ficava bebendo muito. Eu já estava numa fase de estar sempre isolado, não me divertia quando usava [drogas]. Eu ficava enchendo o saco dele [do pai], às vezes ele queria descansar e eu ficava acordando ele. Em 2016 voltei a ser internado contra a minha própria vontade”, disse.
Nos últimos sete anos, o ator conta que passou pelo menos metade desse período dentro de comunidades terapêuticas, tentando se recuperar do vício, que começou ainda na juventude.
“Com mais ou menos 19 ou 20 anos de idade, eu comecei a cansar de ser aquele ‘garotão muito tranquilo’ e comecei a querer me reinventar, a amadurecer, expor mais minha personalidade de homem, de macho alfa, e achava que através da substância [química] eu era mais poderoso, mais presente, mais vivo, com posicionamento mais impetuoso, e fui aderindo a esses artifícios”.
Nesse período antes da internação em 2016, Serginho conta que passou a usar cocaína regularmente, todos os dias, o que trouxe, segundo ele, “prejuízos emocionais, espirituais, intelectuais e afetivos”.
Além desses prejuízos, o artista explicou que, indiretamente, as drogas tiraram outro momento da vida dele: o de ir ao enterro da avó, que faleceu em outubro do ano passado. Internado e em recuperação, ele não pôde ir ao velório e enterro.“Não me despedi dela. Ela já estava velhinha, mas isso é uma coisa que eu vou ter que carregar. É como se a ficha não tivesse caído, que eu nunca mais vou ver minha avó. Não pude sentir um luto de verdade, porque não consegui assimilar isso direito. É uma coisa que há anos eu vinha me preparando e eu estava longe quando ela morreu. Quando meu avô morreu, fiquei chorando por uns três anos quando eu lembrava. Agora, [a morte] da minha avó, eu não consigo chorar”, desabafou.
Sobriedade e recuperação
Hondjakoff saiu da última internação – que durou um ano – há pelo menos três meses. Segundo o ator, esta ‘limpo’ e sóbrio e, se depender dele, quer recuperar a confiança dos fãs, amigos e familiares.
“Eu continuo sóbrio. Cansei de sofrer por conta das recaídas. Sei que tem muita gente que torce por mim, que quer me ver perpetuando na recuperação, na sobriedade. Eu quero reconquistar a confiança da minha família, dos meus amigos, até das pessoas que não me conhecem pessoalmente, mas que lembram de mim pelo meu trabalho e acham que eu não tenho jeito mais. Tem muita gente que não acredita na minha recuperação, mas eu tenho fé que, com o tempo, essas pessoas vão acabar torcendo por mim”.
Nessa última recuperação, contou com o apoio de uma pessoa importante na jornada: o ator e cantor Rafael Ilha, ex-Polegar, a quem Sérgio tem como ‘fã’.
“Eu sou muito fã dele, me amarro nele. Acho ele bonito demais, sempre foi um galã. Desde criança, quando eu assistia o Rafael Ilha, sempre achei ele muito maneiro. Sempre me amarrei no talento dele. Tudo o que ele passou, ele conseguiu vencer e está limpo há 20 anos. É um cara que já prosperou na vida. Fico com orgulho positivo. Acho interessante que a vida tenha tomado esse curso de eu ter conhecido ele, dele ter me ajudado. É um cara gente boa”, contou.
Além de Ilha, o ator também relatou que teve apoio de outras pessoas importantes em seu tratamento, como o terapeuta Sandro Barros e alguns atores que contracenaram com ele durante o período de Malhação, como Eri Johnson e Juliana Knust, por exemplo.
Olhando para o passado, agora Serginho reconhece que, em 2007, ele deveria ter reconhecido a condição de dependente químico. Segundo o ator, faltou maturidade.
“Gostaria muito de ter tido essa maturidade [enquanto] novo. Na época que eu fazia Malhação, se eu tivesse conhecido terapias alternativas, talvez eu tivesse usado menos cocaína e anfetamina, mas a verdade é que eu tive que viver tudo isso mesmo. O episódio de Pindamonhangaba foi o que tinha que ser. Eu já tinha que ter assumido isso há muito tempo. As pessoas que são mais próximas de mim sempre perceberam que eu não podia fazer, e eu nunca tive maturidade para entender isso”.
Vida pessoal e dia-a-dia
Nas ruas desde a alta da clínica, Serginho tem adotado uma rotina modesta: a de ficar em casa assistindo televisão e a de ir à academia, em Resende. Atualmente, o ator tem como objetivo emagrecer.
Para que o objetivo seja atingido, ele tem adotado uma dieta ‘low carb’ e vai à academia todos os dias, onde faz exercícios aeróbicos e musculação. A televisão é um dos hobbies quando não está malhando.
Sérgio Hondjakoff fala de sua vida pessoal
Nesse período de três meses, ele também aproveitou para visitar a ex-esposa, Danielle Monteiro, e o filho Benjamin, no Rio de Janeiro, que, segundo o ator, é, atualmente, um dos poucos motivos de sua alegria.
“Pude passar meu primeiro aniversário junto com o Benjamin. Comemos bastante na pizzaria, brincamos. Pude fazer ele dar boas risadas e é muito gostoso. Sou muito fã do Benjamin. É uma das poucas coisas que eu ainda consigo achar engraçadas, porque eu acho ele engraçado mesmo, consegue me trazer um senso de humor interessante, acho bonitinho”, explicou Serginho.
Desejo de retornar às telas
Sem contrato profissional atualmente, Hondjakoff afirmou que seu maior desejo é retomar a carreira de ator – a qual foi consagrado no início dos anos 2000. Segundo o ator, qualquer projeto envolvendo TV, cinema, teatro ou streaming está entre seus objetivos profissionais.
“Estou disponível e estou me sentindo apto e aberto a propostas de trabalho na TV, cinema, teatro, streaming. A minha praia é mais televisão. O Cabeção e o Max foram os personagens que me proporcionaram gravar bastante cenas, pegar experiência, e eu curto muito fazer cinema, televisão, novela”, disse.
Sérgio fala sobre os planos para a carreira profissional
Marcado por um personagem cômico na televisão brasileira, Serginho disse que se sente confortável para executar um papel nesse sentido.
“Eu sempre trabalhei [com isso]. O Cabeção é um personagem cômico, então eu cresci fazendo personagem cômico. Tenho isso na veia. Tenho saudade de fazer isso, de desempenhar função, de interpretar personagem que tem um bom texto cômico. Isso me entusiasma, faz muito bem para mim. Tenho muita saudade disso”, contou.
Fonte: G1