‘Houston’ brasileira, São José é o centro do combate ao negacionismo científico e ambiental
Monitoramento via satélite realizado pelo Inpe registra o aumento no índice de desmatamento na região amazônica e tem sido alvo de críticas do Planalto
Recém-eleito membro da Royal Society – instituição científica fundada em 28 de novembro de 1660, em Londres –, o climatologista Carlos Nobre vê com preocupação a escalada do negacionismo científico que assola o Brasil ao longo do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), ele mesmo um negacionista recorrente.
Bolsonaro já questionou os dados do desmatamento da Amazônia divulgados há décadas pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) – do qual Nobre é pesquisador aposentado –, além de pôr em dúvida a eficácia e segurança da vacina contra a Covid-19 e o processo eleitoral brasileiro. “O Brasil regrediu décadas em termos de política para Amazônia sob Bolsonaro, além de em outros segmentos”, disse Nobre a OVALE.
Nesse contexto, ele admite que São José dos Campos e a região do Vale do Paraíba são polos de resistência ao negacionismo científico que varre o país. “Aqui temos excelentes pesquisadores, cientistas e a comunidade acadêmica que são, sim, uma resistência ao negacionismo científico, que é muito perigoso ao país. Nenhuma nação avança são ciência”, afirmou.
A maior regressão sob Bolsonaro, para Nobre, foi em termos de política para a Amazônia. Ele sempre defendeu que a floresta tem muito mais potencial econômico de pé do que desmatada. Em mais de quatro décadas de pesquisas, a Amazônia quase sempre esteve no centro dos estudos feitos por Nobre e algumas das respostas que encontrou ajudaram a desvendar o papel vital que a floresta desempenha para o clima local e global.
Um estudo publicado em março deste ano pelo jornal ‘Nature Climate Change’ revelou que, nas últimas duas décadas, a Floresta Amazônica vem demorando cada vez mais para conseguir se recuperar de longos períodos de estiagem, o que resulta em danos aos ecossistemas e deixa o bioma mais próximo de seu ponto de inflexão, após o qual a floresta não terá mais capacidade de se regenerar. “Se a gente quer se salvar do risco de ecocídio climático do planeta, temos que manter o carbono na floresta.”
Mas isso tem sido cada vez mais difícil no governo Bolsonaro, que reduziu a capacidade de fiscalização e controle de órgãos que atuam na região amazônica. “Nos últimos 3 anos e meio, com o atual governo federal do Brasil, vimos um descontrole proposital, uma política de expandir a agropecuária, de levar a mineração a tomar tudo ali, em áreas indígenas, protegidas, tudo. Nós voltamos, por incrível que pareça, para as décadas de 1970 e 1980”, disse Nobre.
O perigo é real, como lembrou o climatologista: “Caso 40% da Floresta Amazônica desaparecessem, a densa mata alcançaria um ponto crítico de desequilíbrio ou inflexão, e perderia a capacidade de se manter como vegetação densa”.
Que ouça mais a Nobre do que a Bolsonaro.
Fonte: O Vale