Coordenador de monitoramento de queimadas do Inpe diz que mudança de comando na área para o Inmet é ‘desconexa’
A mudança foi anunciada pelo diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) durante uma reunião com o Ministério da Agricultura.
O coordenador do programa de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alberto Setzer disse desconhecer a informação de que a entidade deixaria de fornecer dados sobre os alertas de incêndios e queimadas ao governo federal.
A mudança foi anunciada pelo diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) durante uma reunião com o Ministério da Agricultura. A decisão foi classificada de “desconexa” pelo coordenador da área no Inpe.
“A gente está nesse trabalho há três décadas e ao longo desse tempo sofremos todo tipo de questionamento e acusações. Passamos por cima de tudo isso e acho que vamos passar por cima dessa que me parece uma coisa um pouco desconexa”, afirmou Setzer.
De acordo com a afirmação de Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, diretor do Inmet, a atribuição de divulgar os dados sobre alertas de incêndios e queimadas, que é do Inpe, passa ao Inmet por meio de seu novo “Painel de Monitoramento ao Risco de Incêndio”.
“Já fechou hoje pela manhã que não haverá emissão do Inpe ou do Censipan sobre incêndio. Será do Sistema Nacional de Meteorologia. Todos os relatórios do Governo Federal serão passados por esse sistema que está sendo organizado aqui”, disse Lacerda.
Em seguida, Miguel ainda completou que a medida seria uma forma de ‘tratar’ o problema da dissonância dos dados sobre queimada.
“Provavelmente, a gente vai ter uma regulação do Sistema Nacional de Meteorologia. É um problema que o Brasil enfrentava há décadas, na verdade ha mais de 40 anos, e que nunca foi tratado. A pulverização ou a dissonância da divulgação de dados sobre incêndio”, afirmou.
O diretor do Inpe, Clézio di Nardim, informou que vai continuar produzindo os dados, mas que não tem autonomia sobre o uso deles pelo governo federal.
“Se o governo quer criar um órgão para analisar os dados e tirar uma informação adicional, é o governo em si e não eu. Eu gero o dado, posição e hora que aconteceu. Eu não tenho gerência e governança além disso. Eu não posso falar em nome do governo federal”, disse.
Após a entrevista, o Inpe emitiu uma nota que diz que as informações seriam centralizadas pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) do qual o instituto faz parte.
“Na segunda-feira (12), foi lançado de forma conjunta pelo SNM o Painel de Monitoramento ao Risco de Incêndio, ferramenta que monitora e divulga os locais com maior probabilidade de ocorrência de incêndios no Brasil. Esse produto é complementar aos produtos já implementados pelas Instituições e serve para melhorar o monitoramento de queimadas. É o primeiro lançamento de produto do SNM que visa juntar as informações sobre o risco de incêndio e divulgá-las de maneira conjunta e não mais como cada instituição, ou seja, todos os relatórios do Governo Federal serão divulgados em conjunto pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM)”, diz a nota.
Apesar disso, Setzer, responsável pelo setor de queimadas, negou a relação do SNM com o monitoramento. “O programa de queimadas não tem nada a ver com esse sistema nacional, a gente trabalha em uma ação federal que não tem relação com o SNM”.
ATRITOS
O monitoramento de queimadas é um ponto sensível para o governo Bolsonaro. Em 2019, ele exonerou o então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, por discordância na divulgação dos dados de queimada da Amazônia. À época, o presidente acusou o instituto de mentir sobre os dados.
Cerca de um ano depois, em julho de 2020 demitiu do posto a coordenadora do setor de Observação da Terra, responsável, entre outras atribuições, pelo monitoramento da devastação da Amazônia. A demissão aconteceu depois de um alerta de desmatamento recorde.
Lúbia afirmou que à frente do cargo, era pressionada para manter apenas a posição como ‘fachada’, sem que as decisões sobre o setor passassem por ela e, após pressão, acabou exonerada.