Com Inpe sem verba, AEB assume custo de bolsas para pesquisadores do Amazônia 1
Satélite está na Índia e tem lançamento programado para 28 de fevereiro. Com suspensão de bolsas pelo Inpe, pesquisadores que fazem a operação de lançamento não poderiam trabalhar. Sete profissionais foram pagos, mas outros 100 pesquisadores da instituição estão suspensos.
Com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sem verba para o programa de bolsas, a Agência Espacial Brasileira (AEB) teve de custear o pagamento das bolsas de sete pesquisadores por dois meses para não comprometer o lançamento do satélite Amazônia 1, previsto para 28 de fevereiro. Outros 100 profissionais que atuam no instituto seguem suspensos.
O Amazônia 1 é o principal projeto do Inpe para 2021 e consiste no primeiro satélite completamente brasileiro, feito em parceria com a AEB, com investimento de R$ 270 milhões. O equipamento foi transportado para a Índia, acompanhado por bolsistas, de onde vai ser lançado no fim do mês.
Com a suspensão das bolsas, a equipe de lançamento que faz o manuseio de equipamentos, trajetória de voo e todo o suporte estava com situação indefinida. Na semana do anúncio dos cortes, a direção do Inpe disse que não havia risco de atraso porque haveria mão de obra que pudesse absorver a demanda. A direção alegou que não teria orçamento para bancar os pesquisadores e que seria necessária verba de R$ 4 milhões.
Apesar disso, com a histórica queda no volume de mão de obra da instituição, a AEB teve de intervir para que a operação fosse mantida. Os pesquisadores foram incluídos em uma nova modalidade de bolsas, diferente das cortadas do Inpe, mas com duração de dois meses. Com isso, eles teriam vínculo mantido o lançamento apenas, com pagamentos até 31 de março. Depois desse prazo, não há garantias de extensão das bolsas.
CORTES
As bolsas PCI mantém profissionais em funções operacionais, além da pesquisa. A suspensão atinge quem tem a bolsa como única fonte de renda, uma exigência para ser inscrito. O programa tem duração de cinco anos e cada contrato é renovado ano a ano, em fevereiro, de forma automática.
Este ano, em 1° de fevereiro, quando seria feita a renovação, os pesquisadores foram informados sobre a suspensão.
Em um vídeo no qual faz anúncios sobre a instituição, Clézio de Nardin reforçou que apenas o problema com as bolsas dos profissionais do satélite foi solucionado e ainda reforçou que não seria necessário alarmismo.
“O problema é recorrente, aconteceu várias vezes no passado. Então, por favor, esse alarmismo que foi criado, não cabe e não tem necessidade de ser”, disse. Apesar disso, Clézio havia explicado que com o déficit de orçamento de R$ 3,2 milhões que o Inpe atingiria em fevereiro, não poderia manter os custos. Com isso, os profissionais acreditam, que vai haver o corte, não apenas um atraso.
Os pesquisadores comentam que nunca antes tinham tido a bolsa suspensa, sendo impedidos de trabalhar. Eles são doutores e pós-doutores, muitos com projetos de cooperação internacional para o Brasil. Alguns estão sem receber desde janeiro e em situação financeira delicada. Há quem teve de tomar medida emergencial para pagar as contas e está vendendo bolos e doces.
“É muito difícil, somos trabalhadores e a gente não tem garantias como qualquer trabalho. Em uma situação como essa, você fica desamparado. Eu não tenho como pagar as contas, eu tinha uma [renda para] emergência, mas isso não vai manter mais do que esse mês. Meu projeto é internacional, eu tenho prazos com instituições de fora do Brasil e então não posso parar de trabalhar ao mesmo tempo que tenho que procurar outras coisas”, conta uma pesquisadora que não quis se identificar.
O QUE DIZEM INPE E MCTI
O Inpe informou que as questões sobre verba deveriam ser encaminhadas diretamente ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC) e não comentou a situação. A reportagem acionou a pasta, mas aguardava o retorno até a publicação.