40 ANOS DE MISTÉRIO E INVESTIGAÇÕES SEM RESPOSTAS: A INSISTÊNCIA NAS BUSCAS POR MARCO AURÉLIO E OS GASTOS SEM RESULTADO 

Quatro décadas depois do desaparecimento do escoteiro Marco Aurélio Simon, aos 15 anos, no Pico dos Marins, em Piquete (SP), a cena se repete: mais uma operação de buscas, mais uma promessa de respostas. A mais recente foi iniciada nesta quinta-feira (24), com escavações em duas novas áreas indicadas por drones e sensores. Ainda assim, a pergunta que ecoa é: até quando serão mantidas buscas sem conclusões, e a que custo? 

Desde 1985, o caso mobiliza centenas de profissionais, voluntários e equipamentos de ponta. Foram inúmeras expedições, escavações com maquinário pesado, uso de cães farejadores, sensores subterrâneos, drones com radar, inteligência artificial e análises laboratoriais. Em 2023, após uma dessas operações, um fio de cabelo foi encontrado mas sequer pôde ser identificado. Nenhum vestígio concreto surgiu até hoje. 

A comoção, compreensível, sustenta a continuidade da investigação. Mas passados 40 anos, a insistência no mesmo modelo de busca marcado por repetição de estratégias e nenhuma evidência sólida escancara uma questão incômoda: até que ponto faz sentido manter operações custosas, com tecnologias caras, em uma área amplamente vasculhada há décadas? 

Os investimentos mobilizados para essas operações são altos, ainda que o valor total nunca tenha sido oficialmente divulgado. Considerando o aparato envolvido helicópteros, drones com radares de penetração no solo, peritos, deslocamentos, hospedagem, combustível e mão de obra técnica especializada os gastos são, sem dúvida, significativos. 

Ao mesmo tempo, outras investigações tão urgentes quanto permanecem sem recursos ou com equipes reduzidas, em cidades que enfrentam diariamente casos de desaparecimentos, crimes ambientais e violência urbana. Enquanto isso, o caso Marco Aurélio segue como um símbolo de um esforço que não evolui e cuja manutenção parece atender mais à pressão simbólica e emocional do que à viabilidade investigativa real. 

É importante frisar: nenhuma vida deve ser esquecida, e o direito à verdade das famílias é legítimo. Mas também é dever do Estado agir com racionalidade e responsabilidade na gestão de recursos públicos. Quando uma investigação não apresenta nenhum avanço técnico ou probatório há décadas, talvez seja o momento de se refletir, com honestidade, sobre o que ainda é busca por justiça e o que já se tornou apenas ritual. 

O desaparecimento de Marco Aurélio é um trauma coletivo, especialmente para Piquete e para todos que acompanharam o drama desde 1985. Mas a insistência em buscar respostas em um terreno exaustivamente explorado, com custos cada vez maiores e resultados nulos, precisa ser encarada também sob a ótica da responsabilidade pública. 

As homenagens, a memória e o respeito à história do jovem podem (e devem) permanecer. Mas é hora de a polícia, o Estado e a sociedade discutirem até onde vai a justiça e onde começa o desperdício. 

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