‘ANOS FAZENDO MEU MELHOR PARA ACABAR COM UM TELEGRAMA’: DEMITIDOS DA GM RELATAM DRAMA

Com contas para pagar e família para sustentar funcionários fazem apelo por recontratações; sindicatos marcam reunião com Governo e enviam carta para presidente Lula (PT)

Com contas para pagar e família para sustentar, os ex-funcionários da General Motors de São José dos Campos relataram ao OVALE o drama que estão vivendo desde sábado (21) quando receberam o comunicado das demissões. “Foram 20 anos fazendo o meu melhor para acabar tudo com um telegrama”, lamentou um dos 800 funcionários demitidos.

O homem, de 39 anos, que preferiu não se identificar, conta que trabalhou na empresa durante 20 anos e que se sentiu traído ao ser mandado embora da forma como aconteceu. “Foi o meu primeiro emprego, entrei quando tinha 18 anos, passei por várias áreas, me dediquei ao máximo, nunca tive problemas com faltas e nem com outros funcionários. Quando recebi o comunicado estava de layoff (período de inatividade) e com o acordo firmado entre a empresa e o sindicato não poderia ser mandado embora até maio de 2024, mas isso foi quebrado e as demissões foram feitas sem qualquer negociação prévia”, disse, acrescentando que é casado, pai de dois filhos e precisa do dinheiro para ajudar a cuidar da saúde da esposa.

“Minha esposa precisa de acompanhamento médico direto devido a um problema de saúde e com essa demissão é impossível pagarmos um convênio. O salário que ela recebe era apenas um complemento para nossa renda, agora estamos desesperados, com escolas para pagar e uma casa financiada. Foram 20 anos dando o meu melhor para acabar tudo com um telegrama”, lamentou.


Manifestações


Na manhã desta quarta-feira (25), centenas de uniformes com as frases “Quero meu emprego de Volta” e “Luto” foram penduradas na portaria da empresa. A iniciativa é um ato de revolta e de apelo dos funcionários, que representam 20% da empresa, para serem recontratados.

Um dos presentes na manifestação foi João Pedro Vicente, de 30 anos, que protestou junto com a esposa Julia Castro, de 24 anos. Pais de um bebê de 11 meses, eles usaram o body infantil que ganharam da empresa quando souberam da vinda do filho para gravar as frases “Sem auxílio creche” e “Meus pais foram demitidos”.

João Pedro conta que o casal estava de layoff para cuidar do filho recém-nascido e que foram pegos de surpresa com as demissões. “No começo foi tudo muito confuso, estávamos de layoff porque nosso filho apresentou dificuldade para pegar a mamadeira e problemas intestinais, inclusive foi a liderança que decidiu pelo layoff para darmos uma assistência melhor para o pequeno. No sábado recebemos um telegrama de forma desumana e desrespeitosa informando a demissão. Somos recém-casados, temos um filho para criar e agora não sabemos o que vamos fazer sem o auxílio creche. É uma sensação de impotência e injustiça muito grande, estamos passando força para os outros funcionários como uma luta unificada”, disse.

Um outro ex-funcionário, de 40 anos, que preferiu não se identificar, conta que a esposa luta contra o câncer de mama e que todos os gastos com o tratamento eram feitos pelo convênio médico da empresa. “Ela começou a radioterapia pelo plano na sexta-feira e no sábado recebemos o comunicado da demissão. Foi um susto, trabalhei 13 anos na empresa e não esperava por isso. Minha esposa é aposentada por invalidez e sobrevivemos com o meu salário. Ela teve vários problemas com a quimioterapia e por isso precisa de acompanhamento médico diário, inclusive em agosto ela chegou a ficar intubada por um problema na tireoide e ainda está se recuperando. Sem o convênio fica tudo muito caro, já compramos os medicamentos e ela tem uma rotina semanal com médicos, fisioterapeutas, e exames para realizar. Se não formos recontratados não sei o que fazer”, contou.

Reunião com governo

Após cobrança dos sindicatos dos metalúrgicos que representam os trabalhadores da GM em São José dos Campos, São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes, o Governo de São Paulo agendou uma reunião com as entidades. O encontro está marcado para esta quarta-feira (25), às 17 horas, com o secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo, Samuel Yoshiaki Oliveira Kinoshita. As entidades ainda aguardam retorno sobre a reunião com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Os três sindicatos também enviaram carta ao governo Lula (PT), solicitando reunião com a Presidência e o Ministério do Trabalho em caráter de urgência para discutir medidas em socorro dos trabalhadores. 

Novos atos

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos informou que um novo ato será realizado na quinta-feira (26), às 9 horas, na sede que fica na Rua Maurício Diamante e seguirá pelo centro da cidade.

Sobre o assunto, o vice-presidente do Sindicato, Valmir Mariano, reforçou que a greve continua e sem previsão para acabar. “O varal de uniformes simboliza a luta em defesa dos empregos e chama a atenção da sociedade para que todos se unam a essa mobilização. Seguiremos firmes na greve e na batalha para cancelar os cortes arbitrários”, afirma.

Fonte: O Vale

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