MAIS DE 30 BOMBEIROS SÃO RESGATADOS APÓS FICAREM ILHADOS EM LOCAL DE TRAGÉDIA NO LITORAL NORTE DE SP
Apesar da chuva volumosa e acompanhada de raios, não há registro de novos deslizamento ou vítimas.
Mais de 30 bombeiros foram resgatados após ficarem ilhados na tarde desta terça-feira (28), no bairro Baleia Verde, em São Sebastião. Voltou a chover forte na cidade do Litoral Norte de São Paulo, onde aconteceu a tragédia devastadora que matou 64 pessoas.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, 38 pessoas ficaram ilhadas, sendo 34 bombeiros, dois agentes da Defesa Civil e dois moradores. Todos estavam fazendo buscas pelo caseiro de 52 anos que está desaparecido desde o temporal.
De acordo com a corporação, todos estão bem e foram resgatados do local por aeronaves do Comando de Aviação.
Além do grupo ilhado, a chuva trouxe outros problemas para a cidade, que registrou pontos de alagamento na Vila Sahy e em Maresias. O tráfego em um trecho da Rio-Santos foi suspenso.
A chuva volumosa que atingiu a cidade veio acompanhada de raios e ventos. De acordo com a Defesa Civil, há risco de deslizamentos e os moradores de áreas de risco precisam tomar cuidado.
Apesar do alagamento em ruas, até a publicação desta reportagem não houve registro de novos deslizamentos, desabrigados ou vítimas em decorrência do temporal.
O Departamento de Estradas e Rodagem informou que o tráfego entre os km 174 e 176 da Rio-Santos foi suspenso temporariamente, para a segurança dos motoristas. O local deve retomar a operação comboio quando a chuva cessar.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/V/6/aAwxWNSoSzHAgeABsauQ/bombeiros-ilhados.jpg)
Confira, abaixo, um resumo do caso:
O que aconteceu?
Dezenas de pessoas morreram, casas foram destruídas e rodovias bloqueadas após um temporal histórico que atingiu o Litoral Norte de São Paulo há nove dias.
A chuva começou no sábado (18). Durante a noite, ela já era muito forte e não parou mais. Por conta disso, a maioria dos estragos começou já na madrugada de domingo (19).
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/h/M/6NkRCvTcOWLWTqwR0zLw/sao-sebastial-chuvas-f99a2839-fabio-tito.jpg)
A cidade mais prejudicada foi São Sebastião. A Vila Sahy, na Costa Sul do município, foi a mais atingida por deslizamentos de terra e ficou totalmente destruída. O local soma a maior parte das vítimas da tragédia.
Outra cidade da região com registro de morte foi Ubatuba, onde uma menina de sete anos morreu após uma pedra de duas toneladas deslizar e atingir o local ela morava.
Caraguatatuba, Guarujá e Bertioga também sofreram prejuízos e tiveram moradores desabrigados e desalojados, mas nenhuma morte foi registrada.
Maior chuva da história
O volume que caiu em Bertioga, 683 milímetros acumulados, é o maior registro dos sistemas até o momento. Na tragédia de Petrópolis, em 2022, foram registrados 534,4 milímetros. Já o então recorde do Inmet, de 1991, da cidade de Florianópolis, é de 404,8 mm em 24 horas.
Motivos da chuva intensa
Foram, principalmente, cinco fatores que causaram esse movimento e o grande volume de água:
- baixa pressão no litoral
- frente fria vindo pelo mar
- ventos quentes vindos do Nordeste
- nuvens com muita água
- cadeia de montanhas da Serra do Mar
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/x/C/wnvkcIT6KuPRDBwqB7BA/concentracao-de-chuva-em-sp.jpg)
Número de vítimas
De acordo com a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros, 65 pessoas morreram depois das chuvas – são 64 em São Sebastião, cidade mais impactada, e uma em Ubatuba. Veja mais números da tragédia:
- número de óbitos: 65
- número de vítimas identificadas: 57
- número de desalojados: 1.090
- número de desabrigados: 1.172
Quem são as vítimas?
Entre as vítimas há pelo menos 21 homens adultos, 17 mulheres adultas e 19 crianças.
Além disso, boa parte das pessoas que morreram eram turistas e estavam no litoral de São Paulo por conta do período de carnaval. Há registro, inclusive, moradores de estados distantes que morreram na tragédia, como por exemplo Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí e Maranhão.
Saiba quem são os mortos na tragédia na página especial do g1. Veja:
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/L/h/pEeMT4T1GjBqBDX77noQ/design-sem-nome-44-.png)
Visitas de políticos
Desde a tragédia, São Sebastião, epicentro do desastre, recebeu a visita de diversos políticos. Logo na segunda-feira (20), um dia depois dos deslizamentos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma reunião com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e com o prefeito da cidade, Felipe Augusto (PSDB).
O governador de São Paulo, inclusive, transferiu o o gabinete para São Sebastião e ainda não deixou o município. Durante a semana, ele visitou as áreas mais atingidas, fez diversas reuniões e tem tomado as primeiras decisão em relação à tragédia.
Além deles, ministros e o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), também fizeram visitas.
Vila Sahy
Área mais afetada pelas chuvas que castigaram o litoral, a Vila Sahy, em São Sebastião, tem mais da metade das mortes registradas na tragédia.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/X/i/KSUMRBSRGFCD3Hl7Jb5A/2023-02-21t224626z-570902139-rc2ofz98n9hf-rtrmadp-3-brazil-weather.jpg)
A vila surgiu na década de 1990 como uma ocupação que se chamava Vila Baiana, por ser ocupada por imigrantes que saíram da Bahia e demais estados do Nordeste em busca de oportunidades de trabalho.
O local fica na costa sul do bairro Barra do Sahy, entre os bairros Juquehy e Praia da Baleia. Tem área total estimada de aproximadamente 110.612 m² e fica às margens da rodovia Rio-Santos (SP-55).
Em uma ação do Ministério Público para solicitar a regularização fundiária do núcleo, foi informado que no local existem 648 imóveis e lá residem 779 famílias.https://a3436c373879cfd446fecc5824a5ba46.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html
As moradias da Vila Sahy são simples e localizadas próximas à serra. Os moradores trabalham, principalmente, em condomínios da Baleia e de Barra do Sahy, em casas de alto padrão, em hotéis da região. Há também muitos ambulantes que vivem na Vila Sahy.
‘Tragédia anunciada’, disse MP em 2021
Uma inspeção do Ministério Público feita em novembro de 2020 identificou obras e áreas com risco de deslizamento na comunidade. A inspeção avaliava um plano da Prefeitura de São Sebastião para urbanizar e legalizar a situação dos imóveis no local.
Em março de 2021, então, o MP entrou com uma ação civil pública para exigir a intervenção no local – o que inclui ligação oficial de água, luz, urbanização e liberação das áreas de risco.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/k/t/v8YQCrTAqw6BR3FACLDA/whatsapp-image-2023-02-23-at-19.52.52-1-.jpeg)
“A manutenção do núcleo congelado, na área e nos moldes em que se encontra, é uma verdadeira tragédia anunciada, a qual, salienta-se, já se concretizou na área de outros núcleos congelados, em diversas oportunidades ao longo dos últimos anos”, disse o Ministério Público em 2021.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/z/u/qxysVGR8WKhy4fK9B7IA/capturar.jpg)
Alertas
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) disse que o governo do estado de São Paulo e a Prefeitura de São Sebastião foram avisados com dois dias de antecedência sobre o risco de desastre na cidade em razão de fortes temporais. O alerta citava a Vila do Sahy, onde depois mais de 30 pessoas morreram.
Moradores relatam, porém, que não foram alertados pela Defesa Civil e que não houve nenhum pedido para que deixassem suas casas mesmo diante do perigo de deslizamento. (Veja o vídeo acima)
Em seguida, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que avisos de desastres por SMS, como o feito para os moradores antes dos deslizamentos, não são efetivos.
Fonte: G1