TECNOLOGIA AJUDA A RETER MÃO DE OBRA DE CUIDADORES
Mercado das instituições de longa permanência atrai a atenção de grandes grupos
As instituições de longa permanência são o tema da terceira reportagem sobre as soluções que o Japão encontrou para os desafios da longevidade. Dono de três residências, Kimiya Ishikawa é um fervoroso defensor da tecnologia para o atendimento de sua clientela. Visitei uma situada no centro de Tóquio, com acomodações coletivas para quatro pessoas, que será desativada até 2026 – a legislação atual exige quartos individuais. Ali vivem 40 idosos e há vagas para outros 30 no “day service”, ou centro-dia, que oferece refeições, banho, fisioterapia e atividades para estimular a cognição. Há ainda a opção de permanência temporária (“short-stay”) para mais seis. O prédio é acanhado e claramente precisa de modernização, mas se tornou uma espécie de hub de experimentação. Quando fiz a visita, a recreação era comandada por dois instrutores com a participação de Pepper, um robô do tipo humanoide, ou seja, com movimentos corporais e especialmente indicado para a comunicação. Eu mesma provei um exoesqueleto que facilita a locomoção de quem tem dificuldade para andar.
“Tenho 30 equipamentos diferentes, entre robôs e outros itens. Alguns comprei com subsídios do governo de Tóquio e outros eu alugo. Também recebo protótipos de empresas para teste. Não reduzimos os custos, mas certamente o ambiente de trabalho melhorou. Temos que motivar os cuidadores para reter essa mão de obra. Ao mesmo tempo, a tecnologia ajuda os idosos a manter sua independência. É utilizada de acordo com as limitações de cada um, sempre com o objetivo de que a pessoa pelo menos mantenha as habilidades que tem”, diz Ishikawa.
Toru Shinozaki, por exemplo, trabalha há cinco anos como cuidador. Ao usar o suporte, ou “power suit”, consegue levantar o paciente com mais facilidade e realizar as tarefas nas quais tem que se abaixar, como trocar fraldas, com menor esforço: “eu me sinto gratificado com o trabalho”, resume. Ishikawa abraçou a tecnologia em 2015, ao digitalizar a empresa com subsídios do governo metropolitano de Tóquio, e se rendeu às suas possibilidades.
Há residências que preferem investir no serviço de hotelaria. Kimiko Izumi escolheu uma dessas e é quase uma “embaixadora” do lugar onde vive há dois anos. Aos 83 anos, esbanja vitalidade e não precisa de qualquer assistência. Foi o estado de saúde do marido, que enfrentou um câncer de estômago, problemas cardiovasculares e passou a usar cadeira de rodas, que levou o casal a sair de casa: “não temos filhos, estava sozinha e preocupada. Várias vezes tive que levá-lo ao hospital à noite. Já utilizávamos o serviço de cuidadores da prefeitura e foram eles que sugeriram uma solução definitiva. Imaginávamos esta opção mais para a frente, mas foi o melhor, porque me sinto segura e aliviada. Posso inclusive sair para dar uma volta e fazer compras sem me preocupar”.
O casal tinha uma reserva financeira que permitiu a escolha de uma instituição privada na qual 58 funcionários atendem 95 residentes. A idade média está em torno de 86 anos e a maioria é composta por mulheres (são apenas 11 homens). Pela manhã, há atividades físicas adaptadas às restrições dos participantes; à tarde, recreação. O preço é salgado: cerca de 6 milhões de ienes de inscrição, o equivalente a 230 mil reais, mais mensalidades entre 300 mil e 350 mil ienes (de R$ 11.500 a R$ 13.400). O envelhecimento da população se transformou num mercado que chamou a atenção de grandes corporações. Foi o caso da Sompo Japan, gigante na área de seguros que, em 2015, entrou no setor de cuidados com idosos. Começou comprando empresas que atuavam no segmento e hoje tem 450 instituições no país, entre elas o novo lar da senhora Izumi, além de 58 centros-dia e moradias com serviços. Como uma coisa puxa a outra, foi criada uma subsidiária que fornece refeições congeladas.
Kenta Tafu é chef da Sompo Care. No dia da minha visita, o menu do almoço era apetitoso: bacalhau grelhado com molho de cebolinha, arroz, vagem e sopa, com suco de maçã e folhas verdes. “Nossa preocupação é aliar o valor nutricional ao sabor dos alimentos, levando em conta as restrições de cada um”, detalhou. Para evitar infecções ou problemas digestivos, saladas e o peixe cru, tão apreciado na culinária japonesa, não constam do cardápio, mas aos sábados é aberta uma exceção e os sashimis fazem sucesso. Explicou que utiliza cinco tipos diferentes de processamento dos alimentos para atender às limitações de mastigação e deglutição dos idosos. O frango, por exemplo, pode ser servido em sua consistência normal; cortado em pedacinhos; como uma massa macia; mousse; ou papa passada no liquidificador.
Fonte: G1