Cinco cenários possíveis para o fim da guerra na Ucrânia, segundo especialistas

Especialistas ouvidos pela CNN avaliam possibilidades para o fim da invasão russa

Duas perguntas chamam a atenção de todos neste momento: quando será o fim da guerra na Ucrânia e qual será a conclusão do maior conflito de guerra que a Europa viu desde a Segunda Guerra Mundial?

Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro após meses de escalada e aumento de tropas na fronteira, enquanto o presidente Vladimir Putin culpou a Otan – e a vontade da Ucrânia de se juntar à aliança – pela crise, enquanto subia o tom belicoso em cada discurso.

No meio há uma longa e tensa história entre a Rússia e a Ucrânia, ex-república soviética, especialmente depois que Moscou anexou a península ucraniana da Crimeia em 2014 e apoiou os rebeldes que se levantaram na região de Donbas. A Rússia denuncia um genocídio contra populações de origem russa nas regiões independentes de Donetsk e Luhansk.

Especialistas ouvidos pela CNN apontam cinco cenários possíveis para o fim de um conflito que deixa milhares de mortos e milhões de refugiados.

1 – Vitória russa

Desde o início da invasão, a Rússia vem avançando do norte, leste e sul e em direção às principais cidades da Ucrânia. E, embora não tenha conseguido assumir o controle de nenhuma e a velocidade dos avançoes tenha sido reduzida devido à forte resistência ucraniana, a Rússia mantém uma clara superioridade militar sobre a Ucrânia em termos de tropas e equipamentos.

A Ucrânia vem recebendo ajuda militar do Ocidente, que por sua vez lançou uma série de sanções contra a Rússia que dificultará a condução da guerra.

Este primeiro cenário, que deve acontecer em breve ou a janela de tempo pode se fechar, refere-se ao colapso da resistência ucraniana e uma vitória militar total para a Rússia, levando a uma mudança de governo ou à divisão da Ucrânia.

Todos os objetivos de Moscou seriam assim cumpridos: consolidação da anexação da Crimeia, reconhecimento das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, desarmamento do exército ucraniano e fim das iniciativas da Ucrânia de aderir à OTAN e à União Europeia.

Posteriormente, uma Rússia empoderada pode avançar nas negociações de segurança com a OTAN ou ameaçar os países bálticos e a Polônia – anteriormente sob a influência da URSS e agora na OTAN – ou mesmo os nórdicos que permaneceram neutros.

Entretanto, a Ucrânia ocupada pelos russos ainda corre o risco de cair no caos insurgente.

2 – Vitória da Ucrânia

Os ucranianos têm mostrado unidade e vontade de lutar, com o presidente Volodymyr Zelensky se recusando a deixar a capital, Kiev, apesar de ser um dos principais alvos da ofensiva da Rússia e das tropas russas já nos arredores.

A desaceleração do avanço da Rússia em todas as frentes e os apelos de Moscou por voluntários internacionais parecem mostrar a exaustão das tropas russas, à medida que os envios de armas ocidentais para a Ucrânia se intensificam e os efeitos das sanções começam a ser sentidos com mais força pela população russa.

“A economia russa provavelmente não sobreviverá sob o peso perpétuo das sanções atuais e futuras”, disseram os ex-embaixadores dos EUA Dennis Ross e Norman Eisen em um artigo de opinião na CNN.

Nesse cenário, que também deve acontecer em breve, o esforço militar russo entra em colapso, a Ucrânia monta contra-ataques por meio dos quais recupera parte ou todo o território perdido, e a situação leva a um acordo de paz pelo qual a Rússia, derrotada, retira suas tropas e suas reivindicações no país.

As consequências na Rússia podem ser catastróficas, afetando a continuidade de Putin no governo ou levando o líder a aumentar a repressão interna e o isolamento do país. Embora com o tempo a aplicação de sanções seria negociada, trazendo alívio à população.

3 – Saída negociada

As delegações ucraniana e russa mantiveram quatro conversas até agora na tentativa de chegar a um acordo de paz, com ambos os lados dizendo recentemente que algum progresso foi feito.

Zelensky disse na quarta-feira(16) que a delegação russa estava se tornando “mais realista” em sua posição. Enquanto o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse em entrevista à cadeia estatal que havia “alguma esperança de chegar a um acordo”.

Soma-se a esses sinais uma mudança de discurso em Zelensky quanto à possibilidade de ingressar na OTAN. “Durante anos ouvimos que a porta está supostamente aberta (para a adesão à OTAN), mas agora ouvimos que não podemos entrar. E é verdade, temos que admitir“, disse ele no último dia 16.

Enquanto Lavrov assegurou no mesmo dia que “o status de neutralidade agora está sendo seriamente discutido em conjunto, é claro, com garantias de segurança”.

Nesse cenário, as conversas se transformariam numa negociação séria que acabaria por chegar a um acordo de cessar-fogo baseado em concessões —muitas delas bastante dolorosas e difíceis de manter ao longo do tempo— para ambas as partes.

O acordo acabaria com a guerra, mas não necessariamente traria uma solução para a questão da Crimeia e dos territórios de Donbass levantadas em 2014, mesmo que Kiev reconheça formalmente a situação. Mas ambos os lados poderão reivindicar uma vitória parcial e a comunidade internacional poderá então tentar suspender as sanções e restaurar as relações comerciais, embora as tensões continuem.

Não está claro, no entanto, quanto tempo pode levar para se chegar a um acordo, se isso acontecer, ou quanto tempo pode sobreviver. Ross e Eisen observam que “se a Rússia não obtiver uma vitória decisiva na guerra, a Ucrânia poderá chegar à mesa de negociações com maiores vantagens”.

4 – Escalada descontrolada

Nesse cenário, fica evidente o fracasso militar da Rússia em sua tentativa de assumir o controle de toda a Ucrânia, mas Putin rejeita qualquer retirada e decide escalar o conflito, provavelmente ameaçando usar seu arsenal nuclear, um dos mais poderosos do mundo, como fez no início do conflito.

De fato, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse à CNN no domingo (13) que o governo Biden está “preocupado com a possibilidade de uma escalada” em relação à postura nuclear do presidente russo, Vladimir Putin, embora tenha observado que “não vimos nada que nos obrigue a mudar nossa política nuclear neste momento.”

“Estamos observando isso muito de perto e, obviamente, o risco de escalada com uma potência nuclear é sério, e é um tipo de conflito diferente de outros conflitos que o povo americano viu ao longo dos anos”, acrescentou.

Essa escalada poderia envolver o uso de armas nucleares táticas – ogivas de baixo poder projetadas para uso no contexto de conflito convencional – contra alvos ucranianos.

Mas também pode levar a ameaças de uso de armas nucleares estratégicas contra membros da Otan, que Putin já vê como inimigos por sua ajuda militar à Ucrânia.

As consequências de uma escalada desse nível podem ser inimagináveis ​​para o planeta, mas espera-se que as tensões se espalhem inicialmente pelos antigos estados soviéticos e agora dentro da OTAN e que a China seja forçada a assumir um papel mais ativo.

Prédio destruído por disparos de artilharia em Irpin, na região de Kiev, na Ucrânia /REUTERS/Serhii Nuzhnenko

5 – Estagnação

Nesse cenário, o avanço da Rússia estagna em todas as frentes, mas as tropas invasoras fortalecem suas posições e mantêm o território conquistado. Enquanto isso, reforços e recursos são enviados para a Ucrânia.

Os ucranianos, por sua vez, têm uma defesa que a Rússia não consegue penetrar, mas têm dificuldade em partir para a ofensiva. A ajuda do Ocidente é mantida, mas a OTAN doseia sua participação para evitar uma nova escalada.

O conflito, dessa forma e diante do fracasso das negociações de paz, diminui de intensidade e se torna uma guerra de posições, semelhante à que enfrenta os separatistas em Donbas e o governo ucraniano desde 2014, que pode durar até anos. Enquanto isso, as condições de vida na Rússia estão em colapso devido às sanções, e o país começa a buscar possíveis alternativas que possam aproximá-lo da China e da Índia.

Uma longa guerra na Europa poderia, então, gerar efeitos desestabilizadores em toda a região, semelhantes aos casos da dissolução da Iugoslávia na década de 1990, ou das guerras no Iraque, Síria e Iêmen no Oriente Médio.

Fonte: CNN Brasil

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