Falso médico que amputou perna de vítima em acidente na Dutra em Lavrinhas passa a ser investigado
Um falso médico que amputou a perna de um paciente depois de um acidente em Lavrinhas (SP), atuava como contratado da empresa que presta serviços médicos para a concessionária que administra a via Dutra. Ele usava um diploma falso e não tem registro no Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).
A reportagem apurou que já havia um boletim de ocorrência contra ele por exercício ilegal da profissão, quando tentou se passar por médico na capital. O Cremesp informou que vai denunciar o falso profissional ao Ministério Público e abrir apuração contra a empresa que o contratou. Ele também é investigado pela Polícia Civil.
Gerson Lavísio atuava como médico no resgate da rodovia e passou a ser investigado na segunda-feira (15) depois de ser flagrado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) com um CRM (registro profissional) falso, em nome de outro profissional. Na delegacia, segundo a Polícia Civil, ele confessou não ter formação médica.
Na terça-feira (15) ele se recusou a falar sobre o caso com a reportagem e tanto a concessionária, quanto a terceirizada responsável pela contratação de médicos, se disseram “surpreendidas”. À Polícia Civil, ele admitiu que não tem registro de médico e nem faculdade de medicina. A suspeita sobre o falso profissional começou quando atendia as vítimas de um acidente na rodovia em Lavrinhas no domingo (13).
Um engavetamento entre três caminhões deixou um motorista preso nas ferragens, um homem de 36 anos. Durante o atendimento, ele decidiu amputar a perna da vítima ainda na pista. De acordo com a PRF, após a medida, a equipe técnica do resgate acionou os policiais por estranharem a decisão e a falta de técnica para o procedimento.
A polícia então fez uma consulta sobre o médico e descobriu que ele apresentava um CRM cadastrado no nome de outro profissional e o levou à delegacia, onde confessou não ser médico. Gerson atuava como médico de resgate contratado no modelo prestador de serviço para a Enseg, que é terceirizada da concessionária CCR SP-Rio. Na contratação, segundo a empresa, ele apresentou cópia do diploma e um protocolo de abertura de pedido de CRM junto ao Cremesp feito em 9 de fevereiro deste ano.
Na terça-feira o conselho confirmou que o pedido continha um diploma falso, o mesmo que ele apresentou à empresa. Ele alegava ter se formado em 2021 em uma universidade em São Paulo. Com isso, o Cremesp informou que vai denunciá-lo ao Ministério Público por falsidade ideológica e exercício ilegal da profissão.
O órgão disse ainda que, por parte da Enseg, empresa responsável pela contratação, houve imperícia e que o médico responsável pela empresa vai ser acionado em procedimento administrativo por infração ao código de ética médica.
A vítima de amputação, um motorista de 36 anos, seguia internado na terça-feira (15) na Santa Casa em Lorena.
Foi apurado que essa não é a primeira vez que o homem tenta se passar por médico. Em 23 de dezembro, ele foi flagrado em uma unidade de atendimento em Parelheiros, na capital.
No boletim de ocorrência diz que ele foi contratado por uma empresa terceirizada de saúde e que o diretor clínico suspeitou quando passou a ver erros nas fichas médicas. Quando foi flagrado, ele já tinha atendido pelo menos 15 pessoas no plantão.
No dia, ele também apresentou um CRM de outro médico. Com isso, foi levado à delegacia, mas o caso foi registrado como exercício ilegal da profissão, que tem pena menor de dois anos e, por isso, não foi preso. Ao longo de sua falsa trajetória médica, ele usou registros de dois profissionais diferentes, sempre apresentando diploma falso.
A concessionária que informou que “foi surpreendida com a notícia de exercício ilegal da profissão desempenhado por suposto médico e está prestando todas as informações às autoridades competentes”.
A Enseg disse em nota que “que recebeu toda documentação para o exercício profissional da função de médico, e pedido de inscrição junto ao Cremesp, aguardando deferimento. Isto posto, foi surpreendida com relação a denúncia da falta de habilitação do profissional para a função de médico”. A reportagem questionou a empresa o motivo de, mesmo sabendo que ele não tinha registro, manter a contratação, mas não teve retorno.