Operação resgata cerca de 300 bezerros em situação de maus-tratos no interior de São Paulo
Veterinários, voluntários e organizações estão desde o sábado (5) no resgate dos animais em Cunha. Bezerros estavam em fazenda que vendia investimentos em gado e estavam passando fome e sede, segundo o MP. Dono já foi multado em mais de R$ 900 mil.
Cerca de 300 bezerros em situação de maus-tratos são resgatados em uma fazenda em Cunha, no interior de São Paulo. O gado foi encontrado passando fome e sede após denúncia na última semana, e agora é levado para um hospital veterinário de campanha provisório.
O resgate mobiliza instituições e ambientalistas de todo o Brasil desde o sábado (5), após a Justiça autorizar a ação. A maioria dos bezerros encontrados no local tinha apenas cinco meses.
A fazenda pertence a um grupo que oferecia investimento em gados para engorda, como uma oportunidade lucro no agronegócio “sem colocar os pés na lama” (leia mais abaixo).
Apesar disso, os animais encontrados na fazenda estavam desnutridos, com ossos aparentes, alguns já sem mobilidade. Outros, já estavam mortos. Dos 302 encontrados pela Polícia Ambiental na última quarta-feira (2), restaram 292.
“Achamos animais que tinham sido enterrados recentemente. Os animais estavam em extrema vulnerabilidade, com dificuldade até de resgate. Tivemos alguns que não resistiram e morreram. Estamos mobilizando tudo que podemos para salvá-los e responsabilizar quem fez isso”, afirma a presidente da comissão de direito dos animais da OAB, Erika Sarraipo.
HOSPITAL DE CAMPANHA
Os bezerros resgatados estão sendo levados a um hospital de campanha montado no recinto de exposições de Cunha, em um espaço cedido pela prefeitura. Os animais são alimentados e outros já foram encaminhados a hospitais veterinários.
O resgate mobilizou muitos ambientalistas, como a influenciadora e defensora da causa animal Luísa Mell, que esteve no local. Ela acompanhou o resgate neste fim de semana e levou cinco dos animais para hospitais na capital.
A ação mobiliza também o Gaema, do Ministério Público, voluntário defensores da causa animal, como o Grupo de Resgate de Animais em Desastres (Grad) e a ONG Arca da Fé, ambos que atuaram no desastre ambiental em Brumadinho (MG), e advogadas ambientalistas.
O MP ingressou com uma ação contra o proprietário do local e contra a empresa pedindo que a guarda dos animais seja destituída diante da situação de maus-tratos. A promotoria também pediu a interdição do sítio para que o local seja impedido de receber novos animais.
O Ministério Público informou que tenta obter verbas para custear o tratamento emergencial e também a autorização de outras áreas com pastagens para que os animais se recuperem com o devido acompanhamento veterinário.
FAZENDA É INVESTIGADA
Os animais foram encontrados pela Polícia Ambiental na última quarta-feira (2) sem acesso a alimentação, água ou suporte veterinário, em situação de abandono. Ao todo, foram localizados 302 bezerros.
Na ocasião, o dono foi multado em R$ 900 mil e a Justiça determinou que desse tratamento aos animais, sob pena de multa diária de R$ 10 mil para cada animal em risco. Apesar da ação, os animais seguiram abandonados e a Justiça autorizou o resgate.
A fazenda faz parte da empresa Mashia Agropecuária. O grupo oferece investimentos em gado de engorda, com pagamento de lucros na venda do animal. Pelas redes sociais, o negócio era oferecido como uma oportunidade investir no agronegócio “sem colocar os pés na lama”.
A empresa vendia os animais por R$ 2 mil e prometia o trabalho e criação com engorda e lucro de R$ 500, para além do investimento, em até 12 meses. Porém, a fazenda não tinha estrutura para a quantidade de animais encontrados, segundo os especialistas.
O local não tinha sistema de captação de água para os animais ou equipe de veterinários. Apenas um especialista estava no local para atendimento dos mais de 300 bezerros.
Desde novembro, moradores relataram o abandono e a morte de bovinos por sede e desnutrição.
Com a ação da polícia e do MP, os donos da empresa viraram réus por maus-tratos aos animais. Na sexta-feira, eles perderam a tutela dos bezerros, que agora segue com pessoas ligadas a causa animal.
A reportagem procura os envolvidos para comentar o caso, mas não conseguiu contato até a publicação da reportagem.