Ex-diretor do Inpe recebe prêmio internacional por liberdade e responsabilidade científica
Ricardo Galvão foi premiado pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) pela atuação em defesa dos dados sobre o desmatamento da Amazônia em meio a embate com o presidente Jair Bolsonaro.
O ex-diretor do Inpe, Ricardo Galvão, recebeu prêmio internacional da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) na categoria liberdade e responsabilidade científica.
Para a premiação, que acontece desde os anos 80, a organização reconheceu a atuação de Galvão em defesa dos dados sobre o desmatamento da Amazônia em meio a um embate com o presidente Jair Bolsonaro.
A categoria reconhece cientistas que lutam por transparência na divulgação científica e a comissão escolheu premiar Galvão neste ano. Na apresentação de seu nome, a AAAS lembrou os embates quando era diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em defesa das informações e metodologia na pesquisa sobre o desmatamento na Amazônia.
Para Galvão, o reconhecimento internacional mostra a necessidade de pesquisadores se posicionarem em defesa da ciência e “contra o negacionismo”.
“A ciência tem um dever com a sociedade e não com governos negacionistas. Fiz o que fiz pela manutenção da rigorosa metodologia científica do Inpe que foi atacada de forma grosseira e violenta pelo governo Bolsonaro”, comentou Galvão.
CRISE NO INPE
A crise entre o governo e o Inpe se intensificou em julho de 2019, depois que os dados de desmatamento da Amazônia fornecidos pelo instituto mostraram alta de mais de 80% no desmatamento. À época, o presidente descreditou a informação na mídia alegando que não estaria correta e depois afirmou que o diretor, Ricardo Galvão, estaria trabalhando a serviço de alguma ONG.
Em resposta, Galvão disse que o presidente não teria como criticar a análise feita pelos pesquisadores, já que não teria qualificação para isso. Após a afirmação pública, houve pressão para que ele deixasse o cargo antes do fim do mandato de quatro anos, mas sem que cedesse, Galvão foi exonerado em agosto daquele ano.
A saída do diretor e o embate entre o presidente e o instituto ganharam manchetes internacionais. Naquele ano, foi incluído pela Nature, uma das mais importantes revistas de ciência, na lista de 10 pesquisadores de maior destaque em 2019 ao lado de nomes do mundo todo.
AMAZÔNIA
Além de Galvão, também recebeu o prêmio internacional o pesquisador Carlos Nobre. Nobre foi reconhecido na categoria Diplomacia Científica. Nobre é pesquisador no Inpe e reconhecido mundialmente por seu trabalho sobre mudanças climáticas na Amazônia.
De acordo com a associação, ele foi reconhecido pelo trabalho para proteção da biodiversidade e os povos indígenas na região amazônica.