Escritor cruzeirense é finalista do prêmio Jabuti
O publicitário e escritor Alê Santos, de Cruzeiro, porém, atualmente residente em Guaratinguetá (SP), foi indicado ao prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura do país. Negro, do interior e de periferia, Alê recebeu destaque, que rendeu a indicação, pelo livro “Rastros de Resistência” que traz histórias de personagens da história afro falando sobre as lutas deles.
“Essa indicação representa uma quebra do paradigma. Uma sociedade que não se assumia racista e que passou a tomar posição. As pessoas estão se tocando que não é normal viver em um país em que você entra em um estabelecimento e todos são brancos. E que a maioria dos pobres são pretos”, disse.
Alê concorre na categoria ensaios na 62ª edição do prêmio. O autor comenta que a atual edição ouviu uma luta das minorias, que tenta extrapolar as barreiras majoritárias brancas do mercado editorial. Com ele, Djamila Ribeiro, Petrônio Domingues, ambos negros e com obras sobre o racismo, além do líder indígena, Ailton Krenak.
Alê Santos trabalha há dez anos com literatura, mas ganhou voz no mercado com a internet. O autor viralizou no twitter com as “threads” — como são chamadas as publicações em série — contando a saga de líderes negros e explicações sobre a origem do racismo. Depois do viral, recebeu convite de editoras para transformar as postagens em obras.
O material foi produzido ao longo de 2018 e ele conta que recebeu vários ataques na internet pelo posicionamento na luta contra o preconceito racial.
“Durante a construção do livro eu fui muito atacado. Essa era minha primeira obra solo e confesso que eu tive medo de que ele fosse ser suprimido de alguma maneira. Mas essa indicação e toda a trajetória dele mostra que a gente conseguiu vencer essa barreira”, diz.
Para o autor, apesar da representatividade no prêmio e abertura, aos poucos, que o mercado tem tido para minorias antes ignoradas, é preciso avançar mais para que as pessoas compreendam o impacto do racismo e a herança da escravidão para o povo negro.
Em um ano de manifestações do movimento #Blacklivesmatter, movimento internacional que questiona de autoridades ações pela preservação de vidas de pessoas negras em abordagens policiais, Alê comemora a indicação.
“A luta antirracista está avançando e a sociedade quer novas histórias. E a gente quer colocar nossa história de um jeito diferente no destaque”.
O escritor prepara agora sua nova obra, junto a uma editora. A data de lançamento não foi informada.