Sindicato aprova greve e cobra negociação com Embraer para reverter demissões

Empresa anunciou 900 cortes, que irão se somar aos 1,6 mil desligamentos de funcionários que aderiram a um PDV.

O Sindicato dos Metalúrgicos realizou na tarde da quinta-feira (3) uma assembleia e aprovou greve para tentar reverter as 900 demissões anunciadas pela Embraer nas fábricas do país. Além deles, a fabricante de aviões vai demitir outros 1,6 mil empregados que aderiram a um Plano de Demissão Voluntária (PDV).

A empresa não detalhou quantos dos 2,5 mil funcionários demitidos são da sede em São José dos Campos, que concentra cerca de 10 mil dos 16 mil funcionários da Embraer no Brasil.

Durante a assembleia o sindicato disse que aceitaria diminuição de salários para manter os empregos, caso a diminuição de salários seja feita também para os executivos da Embraer. A entidade disse que estuda ingressar com uma ação na justiça contra a empresa para reverter as demissões. Os participantes aprovaram greve ao fim da assembleia.

Uma das exigências aprovadas na assembleia é a criação de um teto salarial na Embraer. A proposta é para que sejam equalizados os altos salários de executivos da empresa e que o teto na Embraer passe a ser de R$ 50 mil.

Logo após a assembleia, membros do sindicato entraram em uma reunião com representantes da Embraer. A empresa irá responder nesta sexta-feira (4) à proposta do sindicato. Também afirmou que não reconhece a greve e que as operações continuam normalmente (leia mais abaixo).

Os funcionários que estão no grupo de 900 demitidos foram avisados da dispensa por e-mail. São trabalhadores que estavam em licença remunerada ou em home office.

POSICIONAMENTO DA EMBRAER

A Embraer informou que tratou de humanizar o processo e que as demissões ocorreram por videoconferência com o gestor direto ou via telefone com os que não puderam participar da reunião virtual.

Em nota, a empresa também informou que responderá na sexta-feira (4) à proposta apresentada pelo sindicato e que os desligamentos anunciados já foram efetivados.

ADESÃO AO PDV NÃO FOI SUFICIENTE

A Embraer havia encerrado na quarta-feira (2) o prazo para inscrição no terceiro PDV aberto durante a pandemia. A medida era uma tentativa de ajustar o quadro de funcionários frente aos impactos causados pela pandemia.

Foram 1,6 mil adesões aos PDVs, mas como o volume não atingiu a meta necessária, a Embraer anunciou que vai fazer mais 900 cortes. Parte dos pedidos no PDV serão efetivados nesta sexta (4).

PANDEMIA E FRACASSO EM PARCERIA

Para justificar as demissões, a Embraer alega o impacto provocado pela pandemia de coronavírus e o cancelamento da parceria com a Boeing, além da falta de expectativa de recuperação do setor de transporte aéreo no curto e médio prazo.

Segundo a empresa, os cortes foram feitos com o “objetivo de assegurar a sustentabilidade da empresa e sua capacidade de engenharia”. Desde o início da pandemia, a Embraer adotou uma série de medidas como férias coletivas, redução de jornada, lay-off ( suspensão temporária de contratos) e licença remunerada.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos afirma que foi pego de surpresa com as demissões. O órgão considera as demissões anunciadas na quinta ilegais e promete ir à Justiça para tentar reverter as demissões.

DENÚNCIA DE ASSÉDIO
O Ministério Público do Trabalho (MPT) apura denúncias recebidas de funcionários da Embraer que relatam pressão para aderir ao PDV.

Uma campanha incentivando a denúncia de casos de assédio em relação ao PDV foi iniciada pelo Sindicato dos Metalúrgicos, que encaminhou os denunciantes ao MPT. Segundo o sindicato, 15 trabalhadores foram orientados a procurar o MPT, que recebeu três denúncias até o fim de agosto.

A Embraer reforçou que o PDV foi um processo voluntário e comunicado com transparência às pessoas, seguindo o código de ética e conduta. Segundo a empresa, os funcionários foram informados pelos canais oficiais sobre o programa.

PREJUÍZO BILIONÁRIO

A Embraer registrou prejuízo de R$ 2,95 bilhões nos primeiros seis meses de 2020. Somente no segundo trimestre, o prejuízo líquido foi de R$ 1,68 bilhão, pior resultado para um trimestre em 20 anos.

Segundo a Embraer, nos seis primeiros meses de 2020, foram entregues somente quatro aeronaves comerciais e 13 executivas, consequência da pandemia de coronavírus.
No primeiro semestre, o prejuízo líquido acumulado da empresa brasileira foi de R$ 2,95 bilhões, enquanto no primeiro semestre de 2019 a empresa apresentou prejuízo de R$ 134 milhões.

A empresa afirma que não teve nenhum cancelamento na carteira comercial, apenas mudanças no prazo de entregas.

FRACASSO COM BOEING

No final abril, a Boeing anunciou a rescisão do acordo que daria à gigante norte-americana o controle sobre a divisão de aviação comercial da Embraer, em meio às crises no setor de aviação e na economia global, deixando a Embraer sem um plano B claro.

A Embraer informou no balanço que os custos de separação dos negócios relacionados com a parceria estratégica com a Boeing, agora encerrada, reconhecidos em janeiro, foram de R$ 96,8 milhões.

Na tentativa de diminuir os impactos na companhia, a Embraer assinou contrato em julho com cinco bancos públicos e privados para contrair US$ 300 milhões em empréstimos para financiar o capital de giro para exportações.

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