Fantasmas de Chumbo: intolerância e grupos violentos aumentam no Brasil
Crescem no Brasil grupos e pautas antidemocráticas, apologia a regimes como o Nazismo ou a períodos como a Ditadura Militar

O ódio à espreita.
Profunda crise econômica, social e política. Mais polarização e o enfrentamento tomando o lugar do diálogo e do debate.
Esses são ingredientes de uma receita muito perigosa: o extremismo.
Não à toa, pesquisadores enxergam semelhanças neste Brasil de 2022 com a Alemanha da década de 1930, quando surgiu o Nazismo, embora as situações históricas sejam bem distintas.
Tanto lá como cá, líderes adotam estética agressiva, governam com espírito militar e adotam o confronto como estratégia política, criando inimigos ao invés de adversários políticos.
O efeito colateral é o crescimento de células neonazistas e extremistas no Brasil, que surgem num momento de relativização do discurso do ódio, não raro confundindo crime com liberdade de expressão. Tal confusão vem até de governantes, como o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Dados da ONG ADL (Anti-Defamation League) mostram que hoje o Brasil é o país no mundo onde mais cresce o número de grupos de extrema direita.
Tais agrupamentos estão concentrados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, de acordo com monitoramento da pesquisadora Adriana Dias, doutora em Antropologia pela Unicamp (Universidade de Campinas).
Segundo ela, são mais de 530 células extremistas catalogadas no país, aumento de 58% na comparação às 334 células detectadas em 2019
Os grupos são divididos em categorias de acordo com suas ideologias, como Hitlerista/Nazista, Negação do Holocausto, Ultranacionalista Branco, Radical Catolicismo, Fascismo, Supremacista, Criatividade Brasil, Masculinismo Supremacia Misógina e Neo-Paganismo racista.
Não raro, tais agrupamentos violentos defendem a volta da Ditadura Militar, a destituição do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal), a morte de minorias marginalizadas, a implantação da segregação racial e pautas notadamente antidemocráticas.
São Paulo é o estado com maior presença de grupos extremistas, chegando a um total de 137, dos quais 51 estão na capital.
Segundo Adriana, que se dedica a estudar o neonazismo no Brasil desde 2002, o universo de grupos extremistas pode reunir até 10 mil pessoas no país. Isso representa um crescimento de 270% de janeiro de 2019 a maio de 2021.
A pesquisadora disse que tais núcleos são beneficiados pela falta de leis contra discursos de ódio no Brasil, o que causa obstáculos a aplicação de punições.
Sem tomar posições claras contra movimentos extremistas e ainda apoiando manifestações antidemocráticas, Bolsonaro é apontado como um dos incentivadores, ainda que indiretamente, desse movimento radical.
“Bolsonaro exigiu a demissão de dois membros da Suprema Corte após uma investigação sobre alegações de que grupos pró-Bolsonaro estavam espalhando ‘notícias falsas’. Ele também questionou a integridade do sistema de votação eletrônica do Brasil, apesar de não haver evidência de fraude eleitoral”, apontou documento da The Economist Intelligence Unit, que classifica a democracia brasileira como “imperfeita”
Fonte: O Vale