Tribunal do PCC: ‘tabuleiro’ do crime põe vidas em xeque-mate

Facção criminosa é uma das mais temidas do país e tem seu próprio ‘tribunal’ de júri

‘Tabuleiro’.

Peças movem-se pelo tabuleiro, singrando espaços deixados pelo poder público, ocupando o vácuo de Estado e desafiando o rei. Xeque. Mate? Quem decide vida e morte, polegar para cima ou para baixo, é o PCC (Primeiro Comando da Capital), maior e mais temida facção criminosa do Brasil, criada no dia 31 de agosto de 1993, no ‘Piranhão’, o pavilhão anexo da Casa de Custódia de Taubaté – apelidado pela organização, em seu estatuto, de ‘campo de concentração’ e fábrica de monstros’.

Chamado de ‘tabuleiro’, o tribunal do PCC cria uma espécie de estado paralelo — a chamada lei do crime. “Matar alguém é raro, hoje bater é mais comum”, disse a OVALE um agente especializado no combate à facção criminosa no Vale.

Os ‘tabuleiros’ acontecem nas ‘quebradas’ sob o domínio dos ‘irmãos’ (os integrantes da organização criminosa), com ‘júri’, acusação e defesa. “Se fizer algo na quebrada, eles cobram”, alertou o policial. “O PCC não cobra só se fizer algo para alguém da facção. Se fizer qualquer coisa na quebrada deles, eles cobram”, completou.

O julgamento é composto por ‘irmãos’ em liberdade e presos, com ‘transmissão via celular. Os ‘crimes’ mais graves são os de estupro e roubo (principalmente se ligados ao desvio dos recursos obtidos pelo tráfico, o carro-chefe da facção).

Se o veredicto é de pena capital, o réu é sequestrado, sendo logo depois executado. “Depois a gente acha o corpo”, contou a OVALE uma fonte ligada diretamente à investigação sobre os crimes praticados pelo PCC.

Os ‘tabuleiros’ são usados ainda em assuntos ligados à quebrada — para punir quem pratica furtos e roubos na redondeza, casos de abuso sexual, entre outros. No ano de 2019, OVALE publicou uma reportagem especial com a relação completa do código de punições do PCC.

“Aqui, levaram um cara para lá [tabuleiro], acusaram ele de ser dedu-duro da polícia. Foi levado, mas não conseguiram provar. E o PCC não deixou matar. Daí, o rapaz [traficante que pediu o julgamento] ficou chateado, porque não pôde ‘fazer’ [matar]”, disse à época um homem ligado ao tráfico de drogas.

As forças de segurança pública e o Ministério Público mantém uma vigilância constante da facção criminosa e definem o combate ao tráfico de drogas, a principal fonte recursos do crime, como ‘prioridade’.

MULHER MORTA EM SÃO PAULO.

Uma das ações recentes atribuídas ao PCC aconteceu em agosto e foi revelada nesta última semana, chocando a opinião pública. Uma mulher de 26 anos foi assassinada após ser “condenada” por negar um beijo a um traficante da facção criminosa em um bar no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, e denunciar o caso, segundo a polícia.

Após o episódio do assédio no bar, ocorrido na noite de 14 de agosto, a vítima Karina Bezerra foi levada a um cativeiro, onde foi mantida em cárcere privado. Ela escapou ao ser resgatada por policiais militares. A mulher, então, relatou o que aconteceu em depoimento à Polícia Civil e ficou escondida em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Mas o seu paradeiro foi descoberto há três semanas por membros do PCC. Segundo a polícia, ela foi assassinada. O corpo ainda não foi encontrado.

Segundo a Polícia Civil, Karina, que trabalhava como cuidadora de idosos, foi assassinada na favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Suspeitas de envolvimento no crime, três pessoas foram presas em flagrante na última quarta-feira (14), indiciadas por tráfico, associação para o tráfico e porte ilegal de arma.

Fonte: O Vale

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