Justiça pede desarquivamento de investigação de morte de jovem em ação da PM em São José

A justiça pediu o desarquivamento da investigação de homicídio em uma ação da polícia que terminou com a morte de um jovem de 28 anos. A decisão foi tomada depois que a polícia ouviu testemunhas protegidas que afirmaram que os policiais teriam mentido sobre o homem não estar ferido e não terem acionado o socorro.
O caso aconteceu em agosto de 2021 no bairro Jardim Americano. De acordo com o boletim de ocorrência, os policiais faziam ronda no bairro e encontraram Lelis Henrique Gadioli dos Santos perto de um carro, o que levantou a suspeita de tráfico. Na versão da Polícia Militar, eles tentaram abordar o jovem, mas ele teria tentado fugir e posicionado a mão na cintura, o que levantou a suspeita de posse de uma arma e um dos agentes disparou. À época, a família contestou a versão da polícia.
A ação vinha sendo investigada pela Polícia Civil em São José, mas em abril o Ministério Público pediu o arquivamento alegando que os policiais agiram em legítima defesa. O pedido foi aceito, mas no último mês a polícia anexou aos autos o depoimento de testemunhas protegidas que disseram que os policiais mentiram sobre Lelis não estar ferido, que chegaram após o disparo e não viram a arma ser retirada do local e que os policiais negaram socorro.
Segundo um dos depoimentos, após o disparo e irem até o jovem, os policiais disseram que ele havia passado mal durante a abordagem e que não estava ferido. Após abrirem a jaqueta de Lelis, perceberam que havia sido baleado, mas os policiais teriam aguardado o óbito para acionar o resgate. Outra testemunha ainda contou que, enquanto tentavam prestar socorro, eram hostilizados pelos policiais.
O juiz entendeu que “os policiais militares envolvidos na ocorrência prestaram depoimentos parcialmente contraditórios”. A justiça apontou que nos depoimentos, inicialmente, ambos disseram que não conseguiam identificar com certeza que o jovem trazia uma arma na cintura. No entanto, em depoimento seguinte, o policial que disparou mudou a versão dizendo que percebeu que era uma arma.
Na decisão, o juiz apontou “haver necessidade do aprofundamento das investigações” e mandou que o processo fosse remetido à Procuradoria-Geral de Justiça.
A reportagem acionou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para comentar o caso, mas aguardava o retorno até a publicação.

O CASO
A ação aconteceu no dia 12 de agosto por volta das 1h. Na versão da polícia, eles faziam uma ronda quando perceberam um jovem debruçado na janela de um carro e suspeitaram que fosse alguma ação de tráfico. Ao tentarem abordar o jovem, começaram uma perseguição e perceberam que ele colocava a mão na cintura, quando um dos policiais atirou.
Após o disparo, os policiais contaram que retiraram uma arma do jovem e que perceberam que estava baleado e, na sequência, acionaram o resgate.
Os disparos aconteceram cerca de 100 metros da casa do jovem. À época, a família contestou a versão da polícia e disse que ele atuava como motoboy, trabalhando até tarde, e estava jogando vídeo game com o irmão, quando saiu para buscar um jogo que estava na casa do vizinho e a família ouviu o disparo.
À época, os policiais sugeriram que o jovem pudesse estar sob o efeito de drogas, mas o laudo do Instituto Médico Legal (IML) não apontou a presença de entorpecentes.
O motoboy não tinha antecedentes criminais e tinha dois filhos, à época com dois e três anos.

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