Prefeitura de Cunha quer que bezerros resgatados de maus tratos sejam retirados de terreno

A prefeitura de Cunha quer que os 300 bezerros regatados de situação de maus tratos sejam retirados do terreno que ela havia cedido até a sexta-feira (4). Após o resgate, os animais foram colocados em um hospital de campanha improvisado no espaço de eventos da cidade, cedido pela prefeitura. De acordo com os veterinários, a maioria dos animais ainda está debilitado e não tem condição de transporte.
Os animais estão no recinto de exposições, onde aconteciam os eventos da cidade antes da pandemia, desde 7 de fevereiro, quando foram resgatados. O hospital de campanha montado no local foi feito com a autorização da prefeitura. Segundo a gestão, eles precisam ser retirados porque “o cheiro tem causado incômodo a moradores pela área estar no perímetro urbano”.
A prefeitura alega ainda que havia concordado em ceder o espaço por sete dias, mas que os animais estão no local há quase um mês. O responsável legal pelos animais após o resgate, Vitor Favano, que é fundador-presidente do Santuário Vale da Rainha para onde os animais serão levados no Sul de Minas Gerais, explica que os animais estão debilitados e, por isso, o transporte ainda não foi possível.
Muitos dos bezerros ainda têm quadros graves desnutrição, anemia e infecção e não resistiriam à duração da viagem. Ele tenta agora encontrar uma propriedade disponível para locação na cidade para continuar o tratamento dos animais até que eles possam ser levados até o santuário, que fica em Camanducaia (MG).
“Sem um local adequado, não tem veterinário que assuma essa responsabilidade de fazer uma viagem tão longa com a maioria nessa situação”, disse à reportagem.
Dos bezerros no local, segundo o veterinário, 40 estão recuperados, cerca de 90 necessitam de atendimento diário e outros cinco estão sob cuidados veterinários intensos em internação. Os demais precisam de observação e suplementação diária para tratamento de doenças e parte terá que ter o globo ocular removido devido a doenças.
Segundo o Ministério Público, eles acionaram a gestão no processo e pediram prazo de 15 dias para o transporte dos animais. De acordo com o órgão, eles vão ser levados a um outro espaço ainda em Cunha, para o fim da recuperação e então serem levados ao Santuário em Minas Gerais. O MP justificou que os animais não tem condições de saúde para transporte.

O RESGATE
Os animais formam encontrados no início de fevereiro na propriedade pela Polícia Militar Ambiental após denúncias de maus tratos. Cerca de 300 bezerros foram encontrados na fazenda sem acesso a alimentação, água e em áreas inadequadas. O dono da fazenda foi multado em cerca de R$ 900 mil, além de responder a processo por crime ambiental.
Após os animais serem encontrados, houve uma disputa judicial pela guarda dos animais para que fossem retirados da fazenda e recebessem tratamento. Voluntários de vários estados do Brasil se reuniram na cidade para o resgate.
Os animais foram levados a um hospital de campanha montado no recinto de exposições da prefeitura em uma operação de mais de 24 horas. Já no transporte para o local, alguns dos bezerros não resistiram e morreram.

INVESTIGAÇÃO
A fazenda pertence a um grupo que oferecia investimento em gados para engorda, como uma oportunidade lucro no agronegócio “sem colocar os pés na lama”.
De acordo com a investigação, em anúncios da internet os donos apareciam oferecendo um negócio em que o animal era comprado por R$ 2 mil e em um ano os compradores receberiam R$ 2,5 mil. A fazenda fazia a engorda e depois vendia em suas próprias lojas a carne do animal – eles têm uma casa de carnes e churrasco.
A suspeita é de que, com a estrutura de investimento, o negócio se tratasse de uma pirâmide. No esquema, quem entra primeiro fica no topo, e recebe o dinheiro dos que vão chegando e permanecem na base. Sem novas entradas, o negócio quebrou. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil.
O advogado do proprietário da fazendo nega que os animais estivessem em situação de abandono. Informou que eles recebiam alimentação, água e que tinham veterinário no local para o acompanhamento, apesar das imagens dos bezerros desnutridos e mortos.

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