Juros altos dificultam financiamento de imóvel para milhões de brasileiros

Com os juros baixos, os financiamentos para a compra da casa própria somaram mais de R$ 205 bilhões em 2021, um recorde histórico em plena pandemia. Mas com as recentes altas, muita gente está revendo os planos agora em 2022.

Uma das consequências dos juros altos para milhões de brasileiros é dificultar ainda mais o financiamento de um imóvel.
Um recorde histórico em plena pandemia: com os juros mais baixos, os financiamentos para a compra da casa própria somaram mais de R$ 205 bilhões em 2021. Mas com as recentes altas nos juros, tem muita gente revendo os planos agora em 2022.

“Os juros assustam. Então a gente está pensando na forma de pagamento que mais atende a nossa renda familiar”, diz a advogada Simone Alves.
O aumento do custo do financiamento é influenciado pela taxa básica de juros da economia – a Selic. Alberto Ajzental, coordenador do curso de negócios imobiliários da Fundação Getúlio Vargas, fez uma simulação do impacto. Ele usou como exemplo um imóvel de R$ 250 mil, com financiamento de 80% – R$ 200 mil – em um prazo de 20 anos e comprometimento de 30% da renda familiar no pagamento da prestação.

Em janeiro de 2021, a taxa básica dos juros estava em 2% ao ano. Nesse caso, a parcela – com seguro – ficaria em R$ 2.191. Agora, com a Selic a 10,75%, o valor subiria para R$ 2.725, R$ 534 a mais todo mês. E uma diferença de R$ 64 mil no fim do contrato. Mas há um outro efeito negativo.
Com a Selic a 2%, a renda familiar para o banco conceder esse empréstimo seria de R$ 7.303 mensais. Agora, com empréstimo mais caro, a renda exigida seria de R$ 9.083. Um aumento que exclui mais de 3 milhões de famílias que não conseguem comprovar essa renda, e principalmente da classe média.

Esses valores são aproximados. A taxa final do financiamento não depende apenas da Selic, mas também do tipo de relacionamento que o cliente tem com o banco, a idade dele, o prazo do financiamento.
“Nenhuma compra se compara à compra do imóvel por parte de uma família, no que diz respeito ao volume de capital necessário e ao prazo. Ou seja, você precisa de muito dinheiro emprestado por um longo período. Você percebe que uma variação da parcela faz com que a renda da família tenha que ser bem maior”, explica Alberto Ajzental.

Os economistas ainda não sabem exatamente qual será o impacto do aumento da taxa Selic no mercado financiamento de imóveis. Mas pelo menos um empreendimento, na Zona Portuária do Rio, parece protegido. Lá está todo mundo negociando. São 700 apartamentos de 30 m² a 70 m², com valores que variam de R$ 250 mil a R$ 500 mil. Em apenas duas semanas, a metade dos imóveis já foi vendida.
A técnica de enfermagem Leticia Rodrigues e o noivo Aleff estão comprando o primeiro imóvel, com taxa de juros de 9% ao ano. “Assusta um pouco, é claro. Mas acredito que ainda dá para fazer. Ainda dá para negociar. É uma conquista muito grande”, afirma ela.

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