Bolsonaro promete ‘surpresa’ e equipe do Inpe teme mudança na direção

Em evento no Rio de Janeiro, realizado no último sábado, presidente disse que o Inpe terá uma ‘surpresa’ nesta quarta-feira; especula-se sobre a demissão do diretor Ricardo Galvão e a troca por um militar

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) prometeu que haverá uma “surpresa” para o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de São José dos Campos, na quarta-feira, conforme discurso que fez no último sábado, em evento no Rio de Janeiro. A declaração deixou o clima incerto no Instituto. “Esses dados [sobre o desmatamento da Amazônia] do Inpe. Semana que vem vão ter uma surpresa”, disse o presidente a jornalistas, sem revelar detalhes.
Nesta quarta, o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, alvo de críticas de Bolsonaro, retorna de férias e deve ter uma reunião com Marcos Pontes, ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, ao qual o Inpe está subordinado.
Pesquisadores da área de OBT (Observação da Terra), grupo do Inpe que cuida do monitoramento da Amazônia, devem acompanhar Galvão.
O encontro e a declaração de Bolsonaro têm deixado um clima de incerteza no instituto. Especula-se que o presidente queira intervir no comando da instituição.
O Inpe tem sido alvo de duras críticas de Bolsonaro e de membros do governo, como os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Pontes.
Há duas semanas, Bolsonaro colocou em dúvida a veracidade dos dados do Inpe sobre o desmatamento da Amazônia, chamado-os de “mentirosos”.
Ele depois se retratou, mas abriu uma crise com a comunidade científica, que rechaçou a declaração do presidente.
Bolsonaro também sugeriu que Galvão poderia ter alguma ligação com ONG com interesses diversos ao do país na divulgação do desmatamento.
Galvão reagiu e disse que a atitude do presidente foi “pusilânime e covarde” e que esperava ser convocado para ir a Brasília explicar os dados.
As críticas de membros do governo aumentaram após o Inpe divulgar que mais de 1.000 km² de floresta amazônica foram derrubados na primeira quinzena de julho, representando um aumento de 68% em relação a julho de 2018.
Teme-se pela demissão de Galvão, cujo mandato vai até setembro de 2020. Há informações não confirmadas de que Bolsonaro poderia indicar um militar para o cargo.
‘DEMISSÃO DE GALVÃO SERIA INTERVENÇÃO INÉDITA DENTRO DO INPE’, DIZ PESQUISADOR
Um pesquisador do Inpe consultado pelo Classe Líder, sob anonimato, disse que uma eventual demissão de Ricardo Galvão do cargo de diretor faltando 13 meses para o final do mandato seria “uma intervenção inédita e desastrosa na história do Inpe”.
Os diretores do Inpe são escolhidos após longo processo, que começa com a formação de um comitê de buscas. Tal grupo de notáveis recebe indicações, seleciona três nomes e os envia ao ministro da Ciência e Tecnologia para a decisão. O mandato é de quatro anos, permitindo uma recondução após nova seleção.
“Se Bolsonaro demitir Galvão e indicar um militar vai quebrar o protocolo, que é por mérito”.
(O Vale)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *