Dia do Trabalho: desempregados relatam dificuldades na busca por vaga no mercado

Após balanço positivo na criação de postos em 2018, o primeiro favorável em quatro anos, março fechou trimestre de queda.

Nesta quarta-feira (1º) é feriado de Dia do Trabalho. As repartições públicas, bancos e comércios estão fechados para uma parada de descanso no meio da semana. Porém, essa pausa não é uma realidade para quem está desempregado e vive a parada na atividade profissional como situação contínua. Em todo o país são 13,4 milhões de desempregados.

Segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), as cidades do Vale do Paraíba e a região bragantina fecharam 1.672 empregos com carteira assinada em março deste ano. Após o balanço positivo de 2018 – o primeiro favorável em quatro anos -, o mês de março de 2019 marcou um trimestre de queda. É com este cenário que o G1 mostra alguns dos rostos por trás dos números neste 1º de maio.

Mario Celso dos Santos, 57 anos, perdeu o emprego em 2002, quando trabalhava como vigia na Prefeitura de Taubaté. Ele, que vive em Natividade da Serra, tem apenas o ensino médio e com a experiência que adquiriu tenta desde então uma recolocação em um posto fixo.

Vivendo de bicos e com a ajuda de entidades assistenciais, no último domingo (28) ele dormiu em um banco de praça na zona sul de São José dos Campos em frente ao local onde faria a prova de um concurso da Prefeitura de Paraibuna.

Sem dinheiro para pagar hospedagem, passou a noite ‘vigiando’ a vaga com medo de perder a prova. Vestido com camisa, jeans e chinelo, ao chegar em São José ele caminhou cerca de seis quilômetros entre a rodoviária no Jardim Paulista e o local da prova, no Jardim Satélite. E repetiu o trajeto após o concurso.

“Mesmo se saísse de Natividade no primeiro ônibus, não chegava a tempo”, explica.

“Não tenho muita qualificação e sem é ainda mais difícil, né? Não tive muitas chances, é difícil, mas estou tentando”, conta ele, que comprou frutas em uma feira livre como café da manhã antes da prova.

Erika Pereira, 31 anos, está há cinco anos desempregada. Ela veio de ônibus para a cidade do avião tentar uma vida melhor, em fuga das dificuldades do agreste pernambucano.

Com ensino médio completo, ela chegou a trabalhar em um restaurante em 2014, mas depois do desemprego, começou tentando vagas em restaurantes, no atendimento de lojas, e ampliou a gama de busca na mesma velocidade com que as contas chegavam.

Ela tem quatro filhos, mora com o marido e usam os R$300 que recebem do Bolsa Família para pagar aluguel e luz de uma casa no Capuava, região periférica da cidade.

O companheiro dela também está desempregado e faz bicos como pedreiro e pintor para bancar o restante do sustento da casa. Assim que os filhos vão para a escola, a rotina dela é sair para entregar currículos e, quando não tem dinheiro para a passagem, faz buscas em sites e grupos em redes sociais, onde também se oferece como diarista.

“No agreste o custo de vida era baixo, mas também não tinha emprego. Aqui o feriado é um dia complicado porque as crianças ficam em casa, mas meu armário está vazio. Não posso nem pensar em levar para tomar um sorvete ou comer um doce. Perto do dia das mães é ainda pior. É duro demais”, conta.

Experiência em foco

Alexandre Ferreira tem 45 anos e vai passar o primeiro Dia do Trabalho desempregado, após 23 anos na General Motors. A metalúrgica foi o primeiro emprego estável dele. Com o salário em um setor insalubre da empresa, ele conquistou carro e casa. Com a perda do emprego, em maio de 2018, viu tudo mudar.

A demissão veio depois de uma série de medidas, como suspensão de horas extras e layoff, que já derrubavam a renda da família. Com a perda do emprego, passou a trabalhar como motorista de aplicativo, até que no início deste ano teve que vender o carro para quitar dívidas.

Desde então, a rotina dele é a mesma: acordar cedo para entregar currículos em empresas, agências e, agora, passou a tentar postos de combustíveis e outras áreas.

“Esse dia do trabalho marca meu primeiro ano desempregado. Passei mais tempo dentro daquela fábrica que vivendo a minha vida aqui fora. Não mudou só minha condição na carteira, né? Isso aí mudou a vida da minha família. Fiquei meio perdido”, disse.

Ele mora em Taubaté com os dois filhos e a esposa, que está afastada do trabalho pelo INSS devido a um problema de saúde.

Se o excesso de experiência em uma área pode se tornar um problema, a falta dela também é. Aline Sanches tem 31 anos e é recém-formada na primeira faculdade. Trabalhava com administrativo em empresas, mas decidiu apostar para construir uma carreira estável.

Ao pegar o diploma, encontrou uma realidade diferente da que esperava. Teve de vender o carro para pagar algumas contas em aberto e se manteve morando com os pais.

Depois de empregos com carteira assinada antes da graduação em comunicação, hoje vive de trabalhos freelancers. Na rotina de busca de emprego, procura em plataformas digitais projetos temporários para compor a renda, e mantém um perfil ativo no Linkedin (rede social voltada ao universo profissional).

“Eu imaginava que a formação acadêmica iria me dar a chance de entrar numa carreira estável, mas não foi bem isso que eu encontrei. Não foi com esse cenário que eu sonhei com a minha idade”.

Mercado de trabalho

Para a psicóloga especialista em carreiras, Claudia Carraro, quem se encontra desempregado precisa sempre estar atento à realidade do mercado.

“É lógico que um emprego de carteira assinada é o que todo mundo, ou quase todo mundo, quer. A pessoa que não tem isso, se sente muito desvalorizada. Com tantos milhões de pessoas desempregadas, fica mais difícil de recolocar no mercado. Porém, os empregos podem estar desaparecendo, mas o trabalho não. Então, tem que passar a ver de um modo diferente ”.

As três principais dicas que a psicóloga Claudia Carraro lista para quem está nesta situação, são:

  • Investir em qualificação – “Tanto técnica, que é a questão das novas ocupações, quanto as educacionais, como conclusão do ensino médio e até mesmo de uma faculdade. Além disso, não basta escolaridade. A pessoa tem que se qualificar também nas competências”.
  • Network (rede de contatos profissionais) – Não é só manter uma rede de pessoas que podem te indicar ou recolocar quando você precisar. “O network é você também oferecer algo para as pessoas e não só procurar quando precisa”.
  • Entrevista – “É preciso saber ‘se vender’, convencer o selecionador, saber se comportar em uma dinâmica de grupo, fazer pesquisas e estudar também em relação a isso”.

Fonte: G1

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